Mentes sãs

Jornal da Tarde - Opinião - Sábado, 9 de abril de 2005

sáb, 09/04/2005 - 13h46 | Do Portal do Governo

OPINIÃO

Luiz Roberto Barradas Barata

Os portadores de distúrbios mentais em São Paulo recebem gratuitamente 25 itens de medicamentos específicosLuiz Roberto Barradas BarataDurante grande parte do século passado, o tratamento dos portadores de distúrbios mentais quase sempre envolvia o confinamento em grandes hospitais psiquiátricos. O isolamento dos doentes, a falta de opções de terapia e a evolução da doença colaboravam para que os pacientes jamais retornassem ao convívio social.

A política de saúde mental do SUS tem preconizado gradativa diminuição do tempo e do número de internações psiquiátricas, estimulando o tratamento ambulatorial para acelerar a recuperação e a reinserção social dos pacientes. No Estado de São Paulo, essa política vem garantindo resultados expressivos, com a introdução de medicamentos mais eficazes, distribuídos gratuitamente.

Entre 1995 e 2004, o número de hospitais do SUS para internações psiquiátricas caiu 23% no Estado, passando de 132 para 102. Também houve redução de 45% no número de leitos psiquiátricos – nesse período foram desativados 11,9 mil leitos e o total de internações apresentou queda de 53%, de 140,8 mil em 1995 para 66,3 mil no ano passado. A redução das internações psiquiátricas foi acompanhada de aumento no número de atendimentos ambulatoriais pelo SUS, que passou de 1,35 milhão em 1995 para 2,56 milhões no ano passado.

O governo paulista e as administrações municipais têm ampliado significativamente os serviços psiquiátricos ambulatoriais, com diversos graus de complexidade, como hospitais-dia, centros e núcleos de atenção psicossocial – a maioria sob gestão dos municípios – e unidades de saúde com oficinas terapêuticas.

No ano passado, a Secretaria de Estado da Saúde modernizou o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Com investimento de R$ 20 milhões, o local foi totalmente reformado, ganhando alas específicas para tratamento de casos agudos e subagudos em áreas como geriatria e comportamento impulsivo.

Além disso, o governo estadual está investindo na reforma de suas unidades psiquiátricas do interior e em projetos de humanização do atendimento como o de ‘certidão de nascimento tardia’, que beneficia pacientes que jamais tiveram nenhum documento de identidade.

Mesmo em hospitais psiquiátricos com a imagem desgastada pelo tempo – como é o caso do Complexo do Juquery, em Franco da Rocha -, houve avanços, com a implantação de uma filosofia de atendimento humanitário e um trabalho gradual de desinternação, promoção social e ressocialização. Com 105 anos de existência, o Juquery apresenta um problema eminentemente estrutural, instalações antigas e inadequadas para os padrões da moderna psiquiatria. Por isso, será desativado até o final do próximo ano.

Os pacientes que não tiverem condições de retornar ao convívio social e familiar serão transferidos, gradativamente, a lares abrigados ou a outros hospitais psiquiátricos públicos próximos, sempre que possível, ao seu domicílio original. Dessa forma, o complexo do Juquery poderá ser desativado, construindo-se em seu lugar um moderno centro psiquiátrico, com novo setor de internações, hospital-dia e outras modalidades de atendimentos ambulatoriais.

Conforme as diretrizes de descentralização do SUS, o atendimento psiquiátrico ambulatorial é atribuição dos gestores municipais, com apoio técnico do Estado, a quem cabe regular as ofertas, investir em seus hospitais para garantir o tratamento de casos agudos e, principalmente, garantir o acesso gratuito aos medicamentos de saúde mental.

Nesse sentido, a assistência farmacêutica aos portadores de distúrbios mentais em São Paulo deu um verdadeiro salto de qualidade nos últimos três anos, com a implantação do programa ‘Dose Certa Saúde Mental’, que distribui gratuitamente 25 itens de medicamentos específicos, repassados às unidades de referência para dispensação.

O desenvolvimento da assistência em saúde mental no Estado de São Paulo, em sintonia com a política nacional para a área, vem obtendo resultados decididamente promissores, com a adequação da rede de atenção e significativa melhoria dos procedimentos, permitindo que o portador de transtornos mentais tenha acesso aos tratamentos e técnicas mais modernas e humanas.

Luiz Roberto Barradas Barata é médico sanitarista
e secretário de Estado da Saúde de São Paulo