Megablitz da lei seca encontra motorista mais precavido

Folha de S.Paulo - Segunda-feira, 7 de julho de 2008

seg, 07/07/2008 - 10h00 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Feliz da vida depois de cerca de 30 minutos de tensão, a estudante Marinês, 22, que faz engenharia civil na USP, grita ao celular: “Mãe! Passei no teste do bafômetro!”.

Marinês, o namorado, Tiago, 23, e um casal de amigos foram parados anteontem por uma blitz da lei seca, na avenida Juscelino Kubitschek, à saída de um bar. O único que não havia bebido era Tiago, porque estava dirigindo, mas sem a habilitação -o que lhe rendeu uma multa. Por isso, Marinês, 0,07 mg/l de álcool no ar expelido, fez o teste para poder assumir o volante no lugar dele.

A megaoperação anunciada pela PM para a noite de sábado/madrugada de domingo abordou 1.457 pessoas.

Foi a primeira investida da Operação Direção Segura em bairros de São Paulo freqüentados por jovens de poder aquisitivo alto -como Vila Madalena, Pinheiros, Itaim e Vila Olímpia- desde a entrada em vigor da nova lei, em 20 de junho.

Trezentos policiais participaram da operação, segundo a PM. Ao todo, 570 motoristas fizeram o teste do bafômetro, 37 foram autuados por excesso de álcool (6,5% dos que fizeram o exame do bafômetro) e 14 foram levados às delegacias -por “embriaguez ao volante”.

De acordo com a nova lei, o motorista pego na direção com mais de dois decigramas de álcool por litro de sangue (ou 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido no bafômetro, o equivalente a um copo de chope) é multado em R$ 955; a partir de seis decigramas (ou 0,3 mg/l, no bafômetro, o equivalente a dois copos de chope), vai preso.

Como Tiago, a maior parte dos autuados passou no teste do bafômetro, mas foi pega por outras infrações, como carteira de habilitação vencida, licenciamento atrasado, placas do carro ilegíveis. “Bairro nobre tem dessas coisas. Vê se eles vão pra Taboão [da Serra]”, diz, chorando, a instrumentadora Beatriz Nogueira, 39, parada por volta das 23h na barreira montada na avenida Faria Lima, próximo à rua Pedroso de Moraes, em Pinheiros. Beatriz não bebeu, mas estava com o licenciamento de seu Ford Ka vencido desde 1998.

Uma parte dos motoristas reconheceu, longe dos policiais, que em um fim de semana “normal” estaria dirigindo depois de beber. Mas, por causa da ampla divulgação da blitz, evitaram assumir o volante na madrugada de sábado.

“Misturei tudo, a gente estava em um casamento”, conta o comerciante Robson Moreno, 31, que entregou o volante para a mulher, Kátia.

“A coisa é séria. Bebi ontem, não dirigi”, disse o empresário Anderson Barbosa, 40, que levava três amigos. “Hoje, ele bebeu, eu dirigi”, disse, apontando um companheiro.

O capitão Storai, responsável pela operação, acredita numa mudança de hábitos. “Você viu a quantidade de táxis [com passageiro]? As pessoas sabem que vão ter de pagar a multa ou que podem ir presas, ninguém quer”, diz ele, por volta das 3h.

Entre os raros casos extremos estão o de um comerciante de 27 anos parado por volta das 3h15 na avenida Henrique Schaumann, Pinheiros.

Na conversa com policiais, ele admitiu que teve dificuldade para sair do Fox que dirigia -mas se recusou a se submeter ao bafômetro, dizendo que estava no seu direito de não produzir provas contra si mesmo.

Após mais de uma hora de espera, o comerciante teve o Fox guinchado. Um carro policial o conduziu até o 14º DP, onde o pai dele retirou o veículo. Em seguida, foi levado ao IML para um exame clínico. O caso é investigado pela polícia.

Um amigo que o acompanhava no carro e fez o teste do bafômetro (0,16 mg/l) criticava a lei: “Afinal, quanto a gente pode beber? 0,1 mg/l? 0,2 mg/l? Isso tá errado!”. “Se vai dirigir, não pode beber nada!”, respondeu um policial.

O motorista Samuel Jung, 24, que pilotava um Honda Civic, tentou dar meia volta para escapar da blitz na avenida Ibirapuera, mas foi rapidamente barrado por um policial. “Eu vi a história das blitze no jornal e “apavorei'”, disse. Jung soprou o bafômetro e…. foi liberado, com 0,07. Disse que bebeu duas latinhas de cerveja.

O único motorista que teve de pagar fiança para não ser preso foi uma psicóloga de 25 anos autuada na esquina da rua Teixeira da Silva com a avenida Paulista, na Vila Mariana, onde não houve blitz.

Ela bateu seu Peugeot na traseira de um carro parado no semáforo. A PM foi acionada, solicitou o teste e o resultado apontou 0,49 mg/l.

Levada ao 36º DP (Paraíso), teve a habilitação apreendida e o carro recolhido por falta de licenciamento. A jovem só foi liberada depois de pagar R$ 500.

Os demais 13 motoristas encaminhados aos distritos policiais foram liberados sem pagar fiança, segundo a Secretaria da Segurança Pública.