Markun assume de olho no América Latina

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 14 de junho de 2007

qui, 14/06/2007 - 9h53 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Será nesta manhã, às 9h30, a cerimônia de posse do novo diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Rádio e TV Cultura. Eleito no dia 7 de maio por assembléia do Conselho Curador da emissora (38 dos 41 conselheiros presentes votaram nele), o jornalista Paulo Markun assume para exercer um mandato de três anos, substituindo Marcos Mendonça, na função desde 2004.

Desde março já se sabia que Markun seria o eleito, por indicação direta do governador José Serra, que não via com bons olhos a gestão de Marcos Mendonça (indicado pelo seu antecessor, Geraldo Alckmin). ‘Ele é a cara da TV Cultura, já que é o encarregado do (programa) Roda Viva’, disse ao Estado, em abril, o secretário de Estado da Cultura, João Sayad. ‘Qual é a tarefa da TV pública? Ele é um nome que tem condições de discutir isso.’

A emissora confirmou ontem que Âmbar de Barros (ex-Unesco) será a nova diretora de Infantis da emissora. O nome de Elói Gertel não foi confirmado como novo Diretor de Jornalismo.

Markun é figura consensual entre funcionários da emissora, onde é muito popular: iniciou sua carreira ali como repórter de TV em 3 de setembro de 1975, levado por Vladimir Herzog, o Vlado. Markun pouco falou desde sua indicação, esperando completar-se o rito legal de sua eleição.

Em seu livro mais recente, Meu Querido Vlado, Paulo Markun dedica um capítulo inteiro aos primórdios de sua carreira na TV Cultura. Lembra de um estudo de Herzog, Considerações Gerais sobre a TV Cultura, que buscava mudar a forma de relacionamento da emissora com o governo e os espectadores.

‘Um telejornal de emissora do governo também pode ser um bom jornal e, para isso, não é preciso ‘esquecer’ que se trata de uma emissora do governo. Basta não adotar uma atitude servil’, diz o documento. Outras preocupações daquele grupo, àquela época, era contrariar certa tendência da emissora ao ‘elitismo, que levava a índices de audiência praticamente nulos’. Entre as recomendações, fazer com que a TV Cultura passasse a representar ‘um canal de diálogo que permitisse à população manifestar aos governantes seus problemas, apreensões, queixas e sugestões’.

Na única nota que soltou à imprensa, Markun comentou que as prioridades da TV continuarão sendo o eixo educação e jornalismo, mas sinalizou para novas metas. ‘Somos um espaço diferenciado para a valorização e a promoção da arte e da nossa música, e continuaremos a sê-lo, levando em conta que os valores representativos da identidade e da criatividade brasileira não devem impedir a abertura para o universo cultural das outras nações.’

Essa abertura cultural deve se dar em direção à cobertura sistemática da geopolítica latino-americana, segundo ele demonstrou já em sua primeira ação programática. A partir desta semana, uma equipe especialmente referendada por Markun (leia texto ao lado) passa a cobrir e produzir documentários e notas sobre os conflitos na Colômbia.

O ex-deputado e ex-secretário de Estado da Cultura Marcos Mendonça deixa a emissora, aparentemente, de forma elegante, sem sair atirando. ‘É público, tendo inclusive sido amplamente divulgado na imprensa, a predileção por outro nome para a direção’, afirmou, também em nota recente.

Mas analisa-se que ele deixa alguns ‘pepinos’ para seu sucessor. Um exemplo é o contrato com a produtora Cellcast, empresa de telessorteios. Paulo Markun assume a Cultura vendo-se obrigado a aceitar um contrato pré-assinado de um ano com a Cellcast, que já coordena programa na emissora, o Sumo TV (que promete R$ 20 mil em prêmios aos melhores vídeos enviados pelo público).