Mapa traz áreas de preservação para anfíbios

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 7 de maio de 2008

qua, 07/05/2008 - 10h07 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Pesquisadores brasileiros produziram pela primeira vez um mapa das áreas prioritárias para conservação de sapos, rãs e pererecas – os chamados anuros – em grande escala na América Latina. Os anfíbios são o grupo animal mais ameaçado do planeta e os cientistas esperam que o estudo sirva como referência para a criação de áreas protegidas capazes de reverter essa tendência.

O trabalho, publicado hoje na revista internacional PLoS One, identifica 6,2 milhões de km2 (uma área maior do que a Amazônia) que precisariam ser protegidos para garantir a sobrevivência de todas as espécies ameaçadas de anuros da região Neotropical – dos desertos quentes do norte do México às terras geladas da Patagônia, no extremo sul da Argentina.

As áreas mais prioritárias são remanescentes florestais de regiões montanhosas na América Central, nos Andes e na mata atlântica brasileira.

Cientistas ligados ao Global Amphibian Assessment, um levantamento publicado em 2004, estimam que mais de 30% das espécies de anfíbios do mundo estão ameaçadas de extinção. Na América Latina, são mais de 1.100 espécies em risco. ‘É um grupo que precisa de atenção urgente, com estratégias de conservação eficazes’, afirma o ecólogo Rafael Loyola, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor principal do trabalho, que cruzou dados referentes a 700 espécies ameaçadas da região.

Uma peça-chave do estudo é a diferenciação entre espécies que se reproduzem por meio de larvas aquáticas (girinos) e aquelas que se reproduzem em ambiente terrestre, com ovos colocados no chão da floresta ou na vegetação. Isso porque a caracterização de ameaças varia de acordo com esses hábitos reprodutivos. Espécies com girinos são mais afetadas pela fragmentação e desconexão de hábitats, que isola os animais do seu ambiente aquático de reprodução, enquanto espécies com ciclo de vida terrestre são mais afetadas pela destruição propriamente dita desses hábitats.

Sem essa diferenciação, várias espécies de reprodução aquática ficariam sub-representadas nos mapas, segundo Loyola. ‘E elas são justamente as mais ameaçadas. Sapo não é tudo igual, não dá para jogar tudo no mesmo saco.’

A pesquisa mapeou áreas prioritárias para a conservação de cada um desses grupos, assim como áreas que são habitadas por ambos – e que seriam as mais prioritárias de todas. ‘O critério mais importante para localizar e designar sistemas de proteção deveria ser representar o máximo de biodiversidade com o menor custo possível’, escrevem os cientistas. E para isso, observam eles, é preciso muita ciência.

‘A grande inovação do estudo é que ele define áreas prioritárias para conservação com base científica e não de forma aleatória, como normalmente se faz’, observa Célio Haddad, especialista em anfíbios da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, que também assina o estudo. Os outros co-autores são Thomas Lewinsohn, Carlos Becker e Umberto Kubota, da Unicamp, e Carlos Fonseca, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS).

Parte dessas áreas prioritárias já está protegida por unidades de conservação. Os cientistas não calcularam ainda exatamente quanto, mas sabem que é pouco. ‘Se pelo menos uma área protegida for criada com base nesse trabalho, já será uma satisfação’, avalia Haddad. Ele é um dos cientistas que contestam as estatísticas de ameaça do Global Amphibian Assessment (por considerá-las exageradas), mas reforça a necessidade de mais pesquisas de campo para aprimorar esses dados.

A situação é urgente. Outra grande ameaça aos anfíbios, além da perda de hábitat, é o fungo da quitridiomicose, doença que vem dizimando populações de anuros na América Central – especialmente as de reprodução aquática. O fungo também está disseminado no Brasil, mas, por alguma razão, não tem causado mortandade de animais no País. Pelo menos por enquanto.