Mais um golpe da polícia contra o PCC

Jornal da Tarde - 5/6/2002

qua, 05/06/2002 - 9h45 | Do Portal do Governo

Numa nova megablitz em 53 presídios, os policiais revistaram mais de 46 mil presos dos quase 77 mil que cumprem pena nas penintenciárias do Estado. Nos 15 presídios da Grande São Paulo foi feita a maior apreensão de celulares (50) e também o maior número de estiletes e facas (180)

Na tentativa de impedir o avanço do Primeiro Comando da Capital (PCC) e das demais organizações criminosas que dominam parte do sistema carcerário do Estado, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAT) realizou ontem uma megablitze em 53 presídios.

Foram revistados 46.263 dos 76.923 detentos que cumprem condenação nos 93 presídios do Estado. Agentes penitenciários e policiais militares apreenderam 87 celulares, 72 carregadores, 13 baterias de celular, 100 cigarros de maconha, 329 papelotes de cocaína, dezenas de pedras de crack, 244 estiletes e facas, 27 cordas, cem litros de maria louca (bebida feita de arroz fermentado e casca de laranja), 20 canos de aço. Um túnel na Penitenciária Tremembé 1.

A ação simultânea nos presídios começou exatamente às 7 horas. Mais de mil policiais militares e 4.800 agentes penitenciários passaram a percorrer celas, oficinas de trabalho, campos e quadras de futebol em busca de armas, drogas, celulares, bebidas e túneis.

Os criminosos revistados cumprem pena em 15 presídios da capital e Grande São Paulo, 14 da região Central do Estado, 4 da região Oeste, 12 da região Noroeste, 8 do Vale do Paraíba e Litoral.

Revista tranqüila em Presidente Bernardes

Os presídios considerados de segurança máxima também foram revistados. No anexo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté não houve apreensão. O mesmo ocorreu na Penitenciária de Presidente Bernardes onde estão os chefes do PCC.

Nos dois presídios as celas são individuais, não há visita íntima e os presos se comunicam com as vísitas através de telas. O número de detentos que sai para o banho de sol não passa de quatro por vez e todos do mesmo grupo.

As megablitze têm sido realizadas todos os meses por determinação do secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Ele espera fazer das megablitze uma rotina em todo o sistema.

Desde o começo do ano os presídios relacionados na faixa dos ‘problemáticos’ – onde existe a possibilidade de rebeliões e fugas -, estão sendo revistados pelo menos três vezes por mês. Os demais duas vezes por mês.

Na última megablitze, no dia dia 23 de maio, policiais militares e agentes penitenciários apreenderam 269 celulares, 176 carregadores, 1.060 estiletes e facas além de cocaína, maconha e crack.

Em nome da lei. Mas sob ameaças

Os agentes penitenciários concordam com as revistas constantes nos presídios e cadeias. Severino (o nome é fictício pois teme ser punido administrativamente) trabalha na Casa de Detenção, no Carandiru, faz de tudo para que o preso não use celular e se comunique com os cúmplices fora das prisões. ‘Qualquer ladrão tem um celular prépago. Quando descubro, vou e apreendo. Exijo que o reeducando faça a sua parte pois eu faço a minha sempre dentro da lei.’

Trabalhando há cinco anos como agente, Severino informou que os funcionários dos presídios que decidem fazer cumprir as leis vivem sendo ameaçados. ‘Eles dizem que vão mandar matar nossas famílias e os ‘irmãos’ em liberdade é que farão o acerto de contas se a gente tentar impedir a liberdade que querem ter na cadeia.’

Na Casa de Custódia de Taubaté, a polícia localizou apenas dois estiletes, jogados no pavilhão da casa de tratamento, onde ficam os presos que têm problemas mentais. Numa penitenciária de Tremembé, foi encontrado cerca de 40 gramas de cocaína.

A direção do presídio informou que os estiletes são usados para as tarefas diárias dos presos, como a execução de trabalhos manuais. No anexo da Custódia, onde estão os presos considerados de alta periculosidade, nada foi encontrado.

Já na penitenciária Tarciso Leonce Pinheiro Cintra, em Tremembé, foram encontradas porções de cocaína – totalizando cerca de 40 gramas -, três telefones celulares, dois carregadores, estiletes de vários tamanhos, cordas e fios elétricos. E um buraco no teto de uma cela, que foi devidamente fechado.

No Vale do Paraíba, 150 homens fizeram a revista nos presídios, considerados de segurança máxima.

Segundo a polícia, esse tipo de fiscalização está se transformando em rotina em todo Estado, para combater o tráfico de drogas e a facilitação de fugas nos presídios.