Mais que mil palavras

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 4 de julho de 2008

sex, 04/07/2008 - 11h05 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

”Os espíritos literários parecem fascinados pela terminologia musical, talvez porque se sentem atraídos pela qualidade ou natureza abstrata que tudo isso representa. Mas nada pode ser mais oposto a um espírito literário, com sua concepção do literal, do que um espírito musical não objetivo, com a sua concentração em formas, linhas e intensidades sonoras. E isso fascina o escritor – faz dele até um pouco invejoso – de tal forma que ele anseia participar daquele estranho mundo.” A alfinetada do maestro e compositor norte-americano Leonard Bernstein pode ser verdadeira, mas bem que poderia funcionar nos dois sentidos, afinal não foram poucos os compositores que se basearam no trabalho de escritores ao criar algumas de suas principais obras. E essa relação entre sons e palavras, música e literatura é o tema deste ano do Festival de Inverno de Campos do Jordão, que começa amanhã à noite no Auditório Claudio Santoro.

Até o dia 27, serão ao todo 50 apresentações, começando com a Osesp na noite de amanhã e sendo fechado no domingo, dia 27, pela Orquestra Acadêmica, formada por alunos do festival, que desce a serra comandada por Kurt Masur para o concerto oficial de encerramento na Sala São Paulo. Masur é uma das estrelas da programação – Antonio Meneses, Nelson Freire, Glenn Dicterow, Jean-Louis Steuermann, Rosana Lamosa, Fernando Portari e outros solistas engrossam a lista, que, se já teve maior nome de estrelas internacionais, mantém um alto nível de qualidade, que deve render momentos musicais memoráveis no alto da serra . O compositor residente será o carioca João Guilherme Ripper. Não é apenas das mais interessantes vozes do cenário atual mas, também, autor que há tempos trabalha com a literatura, tendo, até mesmo adaptado Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, para a ópera.

No concerto de abertura, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo interpreta uma de suas obras, Desenredo, estreada pelo grupo há pouco mais de um mês na Sala São Paulo e repetida agora por conta da presença do compositor em Campos do Jordão; toca também a Sinfonia Manfred, escrita por Tchaikovski a partir do livro de mesmo nome de Lord Byron, que narra a busca de um homem por sete espíritos que possam perdoá-lo e assim aplacar a culpa secreta que carrega. ”A união das duas formas de expressão artística, música e literatura, gerou obras-primas memoráveis”, explica Minczuk. E, ouvi-las, continua o maestro, possibilita uma compreensão mais ampla do fazer artístico, do processo de criação das obras, rendendo experiência mais rica aos espectadores.