Mais mulheres de renda alta buscam o SUS para tratar de alcoolismo

O Estado de S. Paulo

seg, 23/03/2009 - 14h17 | Do Portal do Governo

Para especialista, elas sentem a privacidade preservada no serviço público; crescimento da procura foi de 29%

Cada vez mais mulheres de famílias com renda mais alta estão recorrendo em São Paulo ao Sistema Único de Saúde (SUS) em busca de tratamento para o alcoolismo. Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde mostra que, entre 2006 e 2008, cresceram em 28,8% os atendimentos de mulheres com um perfil diferente do registrado antes.

Em geral, elas têm diploma universitário, trabalham em um bom emprego e a renda familiar mensal é superior a 15 salários mínimos, o que corresponde atualmente a mais de R$ 7.000.

“Elas têm mais acesso à informação, então conseguem identificar os locais onde é oferecido tratamento especializado, como hospitais universitários”, explica Mônica Zilberman, especialista da Universidade de São Paulo (USP) em alcoolismo feminino. “Mas também tenho a impressão de que, em parte, a procura na rede pública é pela vergonha de recorrer ao médico particular e ter de assumir para a família que tem o problema. É como se o serviço público preservasse a privacidade delas”, completa.

Há dois anos, 13% das consultas em serviços públicos de tratamento do alcoolismo feminino eram de mulheres com boas condições financeiras. Hoje, são 16,1%. Esse avanço é acompanhado por um aumento da participação das mulheres – de todas as classes sociais – nas estatísticas da dependência do álcool. Em 2008, a cada dia oito mulheres chegaram aos hospitais públicos tentando livrar-se do vício. O universo de 2.942 mulheres atendidas representa um aumento de 8% em relação a 2006.

As mulheres procuram ajuda médica mais cedo que os homens (elas aos 40 anos, eles aos 50). Isso porque os efeitos do álcool são ainda mais devastadores no organismo feminino e instalam a dependência mais cedo.

DEPENDÊNCIA SOLITÁRIA

“A sociedade já aceita que a mulher beba, mas ainda condena que ela se embriague”, afirma Silvia Brasiliano, coordenadora do programa da mulher dependente química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

“Ela ainda carrega o estigma de se tornar sexualmente mais promíscua quando bebe, enfrenta mais preconceito e mais dificuldade de procurar ajuda. Isso faz com que beba sozinha, escondida.”

Segundo o psiquiatra Pedro Katz e a psicóloga Dorot Verea, o vício feminino é alimentado de culpas, mágoas e pressão. Tratar de si própria muitas vezes significa ter de ficar distante dos filhos. Por isso, na clínica particular que ambos mantêm em Perdizes, zona oeste de São Paulo, Katz e Dorot montaram um hospital dia, sem necessidade de internação.