Mais chance de cura do câncer

Jornal da Tarde

sex, 07/05/2010 - 9h11 | Do Portal do Governo

Equipamento capaz de diagnosticar tumores em estágios iniciais entrará em funcionamento em SP

O Hospital das Clínicas apresentou ontem o primeiro aparelho da rede pública do Estado capaz de detectar tumores cancerígenos em estágios tão precoces quanto o molecular, o que facilitará o diagnóstico e, consequentemente, aumentará as chances de cura.

Chamado de Cíclotron, este acelerador de partículas produz uma substância radioativa que, injetada no paciente, é capaz de indicar a localização exata do tumor em desenvolvimento por meio de um exame diagnóstico por imagem.

O recurso estará disponível aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) de São Paulo em cerca de três meses. O projeto é resultado de uma parceria entre a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Hospital Sírio-Libanês, que doou o equipamento de R$ 10 milhões. O projeto todo custou R$ 17,7 milhões.

Além da função de diagnóstico, a máquina possibilita o desenvolvimento de pesquisas avançadas para tratamento de câncer.

“Na medicina atual existe uma linha de pesquisa que se chama ‘imagens moleculares’, que é o desenvolvimento de substâncias radioativas que se concentram no tumor e, ao mesmo tempo, carregam junto o medicamento”, explica o diretor do Instituto do Câncer de São Paulo e professor da Medicina/USP, Giovanni Guido Cerri.

Ele acrescenta que, no futuro, a ideia é que se possa tratar a doença antes mesmo que ela se manifeste. “É o futuro das pesquisas na área de radiofármacos associados a medicamentos. Talvez daqui a 20 anos nós consigamos atingir esse objetivo”, afirma o professor.

Pesquisas

A possibilidade de desenvolver pesquisas é um dos principais interesses do Hospital Sírio-Libanês na parceria. Segundo o superintendente corporativo da instituição, Gonçalo Vecina Neto, médicos do Sírio-Libanês e da USP trabalharão em conjunto nos estudos. “Esses pesquisadores têm uma competência muito grande, mas falta equipamento. O projeto vai oferecer uma oportunidade única de desenvolver novos tratamentos para o câncer.”

A precisão do diagnóstico emitido com a ajuda do Cíclotron é resultado de uma tecnologia americana. O equipamento foi produzido pela empresa General Electric. Há uma máquina similar no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP. Ela é capaz de produzir fármacos, e não diagnósticos ou pesquisas médicas.

O Cíclotron do Hospital das Clínicas produz uma substância que é a glicose marcada com flúor radioativo. Esse fármaco, chamado de SDG, é aplicado no paciente com sintomas de câncer que é, em seguida, submetido a um tomógrafo. Como os cânceres consomem mais açúcar do que os tecidos saudáveis do corpo, o tumor absorve maior quantidade de glicose e, com a ajuda do flúor radioativo, fica em destaque na tela do computador que faz a leitura. “Dizemos que aquela região acendeu”, explica Vecina Neto.

A ação radioativa do SDG é temporária e dura, no máximo, duas horas. Daí a importância de o aparelho que o produz ficar próximo aos locais onde o exame será realizado. Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, o serviço de diagnóstico poderá beneficiar mais de 14 mil pacientes do SUS por ano.

O médico oncologista da Unifesp Hakaru Tadoroko lembra que o diagnóstico precoce do câncer possibilita que, na grande maioria dos casos, seja possível a cura da doença.