Longe das guitarras e mais perto do oboé

Jornal da Tarde

sex, 18/12/2009 - 8h16 | Do Portal do Governo

Instrumento de sopro nada popular atrai jovens que se destacam em orquestras de São Paulo

Oboé, o que seria um oboé? Talvez levados pela sonoridade do nome, muitos respondem que se trata de um instrumento de percussão. Não é. Um oboé faz parte da família dos sopros e, mesmo discreto nas orquestras e desconhecido do público, ganha como fãs músicos bem jovens.

A coroação dos oboístas aconteceu neste mês, quando Ricardo Barbosa Pereira, 25 anos, sagrou-se vencedor do programa Prelúdio, da TV Cultura. “Nem achei que fosse selecionado para participar. Pensei que os pianistas e regentes tivessem mais chances. Mas o júri ressaltou a dificuldade de execução do oboé. Não é um instrumento fácil”, diz o músico.

Antes de chegar ao oboé, Pereira tocava instrumentos de fanfarra na escola em que estudava, em Rio Preto, interior de São Paulo. Depois, partiu para o saxofone. “Mas eu queria tocar em orquestra. O saxofone não tem muito espaço na música clássica. Então, arrisquei o oboé.” Por se tratar de um instrumento com palheta dupla, requer um controle apurado da respiração (pelo diafragma). “Já é difícil tocar. Mas é mais difícil tentar estudar. O oboé é um instrumento muito caro”, avisa Pereira. Uma peça profissional custa cerca de 6 mil euros (R$ 18 mil). Já um instrumento para estudantes, de menor qualidade, não sai por menos de 3 mil euros (R$ 12 mil). “Oboísta sofre. Se eu fosse um estudante de flauta, poderia praticar em um instrumento chinês de R$ 400.”

O bom oboísta, por outro lado, tem grandes chances de entrar logo em uma orquestra. “Tem muitos jovens tocando porque a demanda é maior do que o número de instrumentistas. Tem gente com três anos de estudo já atuando em orquestra”, fala Vitor de Souza Pinheiro, 21 anos, bolsista da Orquestra Jovem do Estado. “O problema é que, como oboísta, vou ter menos oportunidades de trabalho fora de uma orquestra. Quase não tem oboé na música popular”, completa.

Pinheiro começou tocando guitarra e rock-and-roll, mas sempre gostou dos timbres diferentes. “Quando ouvi um oboé pela primeira vez, sem nem saber o que era isso, me encantei de cara”, lembra. Para ele, o difícil era explicar para os amigos e familiares que tipo de instrumento era aquele. “Não sei porque, mas todo mundo acha que é percussão. Tento explicar dizendo que é parecido com a flauta, mas as pessoas só entendem quando me veem tocando”, diz.

Outro bolsista da Orquestra Jovem do Estado, Gabriel Paes Marcaccini , 30 anos, começou sua carreira em igrejas evangélicas. “Eu era muito pequeno e meu pai já me falava do oboé. Ele dizia que era um instrumento muito bonito e tal. O legal é que a gente vivia em um ambiente de música popular, ninguém sabia direito o que era esse instrumento”, relembra Marcaccini. “Eu digo que é parecido com aquelas flautas dos encantadores de serpentes.”

Jorlane Barbosa da Silva, 17 anos, toca na Orquestra do Auditório do Ibirapuera. A menina começou a se interessar por música ainda no colégio. “Quando abriram as inscrições para a orquestra, eu tentei me apresentar com uma flauta. Só que, na audição, eu vi uma moça muito alta tentando tirar um som de um instrumento que eu sequer conhecia. Ela não conseguiu. Eu tentei, e tive sucesso. O professor disse que, mesmo que eu não quisesse, eu teria que ficar com o oboé”, diz a instrumentista. “O oboé é tão difícil que a Orquestra do Auditório está há dois anos sem um segundo oboísta (normalmente, são dois desses instrumentistas por formação). Eu tenho que me virar sozinha mesmo”, brinca.