Livros reúnem as ricas coleções do governo estadual

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Terça-feira, 28 de dezembro de 2004

ter, 28/12/2004 - 9h20 | Do Portal do Governo

Entre mais de uma centena de obras destacam-se telas de Tarsila, Guignard e Volpi e esculturas de Brecheret

Antonio Gonçalves Filho

As coleções de arte dos dois palácios do governo do Estado de São Paulo, o Bandeirantes e o Boa Vista, em Campos do Jordão, reúnem desde registros de pintores viajantes, como Rugendas, até pinturas de expoentes do construtivismo, como Volpi. No entanto, é um acervo quase desconhecido dos paulistas, donos, por direito, das mais de cem obras agora reunidas em dois livros que a Imprensa Oficial acaba de lançar, Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e Arte nos Palácios. O segundo, dirigido ao público infanto-juvenil, foi escrito pela professora Nereide Schilaro Santa Rosa para ser usado em escolas públicas. Ele traz explicações e testes aplicados de educação artística.

Se o livro para estudantes tem essa preocupação, o mesmo não se pode dizer do catálogo maior, que reúne as obras sem o histórico de suas aquisições. Seria interessante ter, ao menos, uma palavra dos curadores desse acervo ou a definição da linha que orienta a coleção. Poucos tiveram acesso, por exemplo, a um dos 105 cômodos do palácio de inverno do governador em Campos do Jordão ou conhecem o histórico de sua construção, que levou 30 anos para ser concluída, em 1964. É lá que estão, por exemplo, um dos melhores óleos da coleção, O Teatro (1953), da portuguesa Vieira da Silva, além de duas esculturas de Ernesto de Fiori e uma têmpera de Volpi , ambos italianos que se estabeleceram no Brasil.

Em termos comparativos, o acervo do Palácio Boa Vista parece mais atraente para quem gosta da arte produzida no período modernista ou por representantes dos movimentos posteriores ao concretismo. De qualquer forma, o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, construído pela família Matarazzo para servir originalmente de universidade, abriga uma coleção que tem também artistas contemporâneos, embora o foco esteja voltado para períodos anteriores, especialmente o século 19. Um dos tesouros do palácio, por exemplo, é o óleo Paisagem com Figuras e Palhoça, de Henri Vinet (1817-1876).

A pintura acadêmica está bem representada no Bandeirantes. Aquele que foi considerado o melhor desenhista de São Paulo no início do século 20, Oscar Pereira da Silva, divide espaço no palácio com outros grandes pintores do período, entre eles João Baptista da Costa e o paisagista Benedito Calixto, que tem uma grande vista de São Vicente (de 1919) incluída na coleção.

Do impressionismo em diante, a coleção do Palácio Boa Vista parece mais atraente. Algumas de melhores telas de Eliseu Visconti, como o retrato de seu sobrinho, estão no acervo, por meio do qual é possível contar a história da evolução da pintura brasileira no século 20, incluindo as primeiras experiências expressionistas de Anita Malfatti (como a tela A Ventania, de 1915, reproduzida nesta página), a adesão de Cícero Dias e Ismael Nery ao surrealismo, a pintura social de Tarsila do Amaral, o construtivismo de Volpi, o abstracionismo de Maria Leontina e o geometrismo de Rubem Valentim.

Algumas dessas obras foram selecionadas para o calendário de 2005 da Imprensa Oficial, entre elas imagens de Di Cavalcanti e Pancetti. Entre os ícones mais reproduzidos das coleções do governo de São Paulo, dois se destacam: uma aquarela de Rugendas, que mostra um casal de escravos numa fazenda, e a tela Operários (1933), de Tarsila do Amaral.