Lições de um bom ensino público

O Estado de São Paulo - Sexta-feira, dia 16 de junho de 2006

sex, 16/06/2006 - 10h54 | Do Portal do Governo

Diretor, com apoio da comunidade, transformou escola problemática de favela em um modelo

Maria Rehder

A escola que ninguém quer. Essa foi a afirmação que o educador Hewerton Santos Chaves ouviu, há mais de 13 anos, ao aceitar dirigir a Escola Estadual Dilson Funaro, bem no meio da Favela do Flamingo. As ruas não eram asfaltadas, a escola não tinha telefone e em alguns ambientes não havia teto, não havia nada. Hoje o cenário é outro: o índice de evasão é nulo, o espaço físico, que abriga mais de 1.200 estudantes da 1ª série ao ensino médio, é conservado e a comunidade comemora a segurança, pois desde que Hewerton assumiu o cargo nunca houve nenhum caso de violência.

O educador conta que, ao chegar, ficou assustado. “O espaço era grande e aberto e, como era difícil chegar àquela região, os alunos ficavam sem aulas e a rotatividade de professores era grande. Não controlávamos a saída e a entrada”, diz o diretor, que já presenciou tiroteios do lado de fora.

Arregaçar as mangas foi a primeira atitude. Com poucos professores que eram comprometidos à época, ele levantou os problemas mais graves e buscou ajuda com o poder público. “Por erro da Prefeitura, até asfaltaram a rua de escola errada.Tivemos de ter paciência”, lembra.

A atual vice-diretora, Marilda M. Alcântara, que trabalha ali desde a inauguração, conta que o começo não foi fácil. “Quando chovia era um desespero, entrava água por todos os lado. A sorte é que a comunidade respeitava a escola, mas antes da gestão do Hewerton os alunos e a comunidade não paravam aqui.” Após realizados os ajustes do espaço físico, partiu-se para o desafio pedagógico. “Vi que para instaurar a ordem era preciso ter sempre um funcionário próximo dos alunos”, ressalta o diretor.

Hewerton explica que sempre deixou claro para a comunidade que a disciplina seria a prioridade e a família sempre teria informações sobre o comportamento dos alunos. “Acredito que este tenha sido o grande segredo da nossa segurança, pois a comunidade gostou de receber atenção.”

A escola, recentemente, recebeu cinco bolsas de estudos de cursos profissionalizantes para os melhores, mas, em vez destes, enviou os casos “problemáticos”, que hoje apresentam melhor desempenho. Além da rigidez, a linha pedagógica usa muito aulas lúdicas. “Não adiantava ficar em um lugar seguro, sem ter prazer. Promovemos a interação do conteúdo da aula com a realidade”, explica João Jazinski, coordenador pedagógico.

PRECONCEITOS

A aluna do supletivo Maria Oliveira Paes conta que o lugar enfrenta preconceitos por estar dentro da favela. “Eu matriculei o meu filho em outra escola, pois como eu não moro na favela todos falavam que ali era violento.” No entanto, quando Maria decidiu voltar a estudar e se matriculou na EE Ministro Dilson Funaro, se surpreendeu. “É bem melhor do que a do meu filho, que não fica na favela. Todos respeitam o diretor, a comunidade é unida e realiza muitas atividades.”