Leitura no Metrô

Folha de S. Paulo - Editorial - segunda-feira, 06 de setembro de 2004

qua, 08/09/2004 - 12h07 | Do Portal do Governo

‘Embarque na leitura.’ É com esse simpático nome que foi inaugurada na semana passada a primeira biblioteca pública brasileira a funcionar numa estação do Metrô, a Paraíso, em São Paulo. Trata-se de uma iniciativa do Instituto Brasil Leitor, que congrega empresas e profissionais do mercado editorial, em parceria com a Secretaria de Transportes Metropolitanos e a Secretaria de Estado da Cultura.

Quem se cadastrar na biblioteca poderá tomar emprestado por até dez dias algum dos 4.000 títulos do acervo inicial, que reúne obras de vários gêneros, da literatura à filosofia. O plano é inaugurar outras nove bibliotecas em estações do Metrô.

O projeto tem, evidentemente, um alcance microscópico diante das dimensões e da incultura continentais do país. Mas multiplicar iniciativas como essa é um esforço que vale a pena. O hábito da leitura, uma vez adquirido, costuma ser cultivado pelo resto da vida.

É difícil determinar o que é causa e o que é efeito, mas o brasileiro quase não lê. Existe aqui uma livraria para cada 84,4 mil habitantes (dado de 2000). A vizinha Argentina tinha, na mesma ocasião, uma para cada 6.200. O brasileiro adquire em média 2,5 livros por ano, aí incluídos os didáticos, que são distribuídos a alunos da rede pública. O francês compra mais de sete livros por ano.

Um dos aspectos pouco mencionados do ciclo de perpetuação da miséria é o fato de que o filho de pais analfabetos, mesmo quando chega à escola, já entra em desvantagem. Alguns educadores acreditam que apenas ver os pais lendo desde a primeira infância já constitui elemento do processo de aprendizagem.

O Brasil não se tornará uma França da noite para o dia. Mas, para que a população venha a ter hábitos de leitura, é preciso começar a criar familiaridade com a escrita e os livros. Cruzar todos os dias com uma biblioteca na ida e na volta do trabalho pode ser um bom começo.