Legado dos escravos vira atração

O Estado de São Paulo - Terça-feira, dia 10 de outubro de 2006

ter, 10/10/2006 - 10h36 | Do Portal do Governo

Secretaria de Turismo do Estado lança rota étnico-cultural que abrange seis circuitos em 15 cidades

Camila Anauate

Escravos africanos chegaram aos montes ao Vale do Paraíba, ao litoral norte e a cidades da Serra da Mantiqueira a partir de 1850, com o avanço da cultura cafeeira. Participaram do desenvolvimento local, ajudaram a mover a economia dos barões do café, ergueram fazendas e deixaram como herança traços de sua cultura, religiosidade e gastronomia.

O legado africano em terras paulistas agora faz parte de um roteiro de turismo étnico-cultural, lançado pela Secretaria de Turismo do Estado no último dia 22: a Rota do Escravo.

Segundo o secretário Fernando Longo, o turismo será uma fonte de desenvolvimento para as comunidades locais. ‘O roteiro mostra a importância dos negros para São Paulo. Os visitantes terão oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história e os costumes desse povo’, comenta.

A idealizadora do projeto, Solange Cristina Barbosa, de 43 anos, estuda a influência dos escravos na região desde 2000. Historiadora e técnica em turismo, ela desenvolveu seis roteiros focados nas marcas da cultura africana. ‘Em qualquer uma das cidades, a presença dos negros foi marcante’, explica.

Solange foi inspirada pela rota da abolição francesa, um roteiro pelas regiões de Alsácia, Lorena e Franco-Condado, no nordeste da França. O tour da abolição inclui visitas a museus e castelos que tiveram papel importante na história da escravidão do país, como o Château de Joux, onde o general Toussaint Louverture, herói da abolição da escravatura no Haiti, ficou preso e morreu, em 1803.

‘Levei o projeto à Secretaria de Turismo, que gostou da idéia’, lembra Solange. ‘Com incentivo da iniciativa privada, tornamos o projeto possível’, ressalta o secretário Longo.

JONGO NOS QUILOMBOS

Os seis roteiros mapeiam os passos dos negros africanos em 15 cidades paulistas. ‘Focamos os pacotes na presença do escravo na economia, cultura, religião, culinária e até geografia dessas regiões’, afirma Solange. A historiadora é proprietária da Realitytour, operadora da rota. Os pacotes também são vendidos por agências receptivas locais.

Quem for a Piquete, na Serra da Mantiqueira, poderá assistir a apresentações de jongo, uma dança afro praticada pelos escravos nas fazendas de café. Já em cidades do litoral norte, estão programadas visitas a comunidades quilombolas e a museus que guardam documentos sobre os processos de escravidão. ‘O turista escolhe o roteiro que lhe interessa’, diz Longo.