SÃO PAULO – Com o troco dos R$ 2 gastos na compra da passagem do trem, o office boy Ricardo Santos conseguiu matar a fome que sentia diariamente a caminho do trabalho. Comeu, na estação Guaianazes, um ‘kit lanche’, espécie de café da manhã subsidiado pelo Estado que está sendo vendido por R$0,40 em algumas estações ferroviárias. O sucesso do programa, que vendeu 21 mil kits nos primeiros três dias após o lançamento, na semana passada, faz emergir um problema social.
Com o sanduíche frio e o suco que fazem parte do kit, Ricardo conseguiu escapar de uma estatística preocupante. Segundo um levantamento nos registros de atendimento médico da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a fome é responsável por 32% dos desmaios em trens ou estações. ‘Demoro quase uma hora entre a minha casa e a empresa. Saio com pressa, não tenho tempo de comer’, diz ele, guardando um segundo lanchepara servir de almoço. ‘É simples, mas bom e barato’, festeja a doméstica Lindaura da Silva.
‘Quando dorme, a pessoa fica, geralmente, 8 horas em jejum. Ao sair sem comer, a taxa de açúcar no sangue cai e ela acaba desmaiando’, comenta o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Segundo ele, o kit tem a quantidade mínima nutricional para o começo de um longo dia. O suco natural, de 300 ml, contém cerca de 45 calorias. O sanduíche, de pão francês e frios, normalmente entre 200 e 300 calorias.
Os quiosques para as vendas estão em sete das 92 estações da CPTM da capital e funcionam de segunda a sexta, das 5h às 13h. Graças à enorme aceitação do kit — muito acima da previsão de dois mil lanches vendidos por dia — o governo do Estado já planeja distribuir sopa por R$0,30 na volta para casa.
Jesuan Xavier
