Lambari ganha mercado, na pesca e na mesa

O Estado de São Paulo - 15/5/2002

qua, 15/05/2002 - 12h20 | Do Portal do Governo

De isca viva a petisco, peixe deixa de ser praga em tanques para se tornar fonte de renda

Há dez anos, ele era considerado uma praga nos tanques e rios. Mas, atualmente, o lambari ganhou a simpatia da piscicultura e do mercado brasileiro de pescado e a admiração dos criadores profissionais de outras espécies.

De fácil reprodução e adaptação, tem sido a mais procurada isca viva para pesca esportiva de peixes carnívoros (tucunaré, corvina, salmão, truta e traíra, entre outros), tomando o lugar da sardinha. Mais: vem conquistando a preferência do público como petisco, nos principais restaurantes que vendem frutos do mar.

Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), uma nova espécie descoberta na região de Campos do Jordão (SP) pode incrementar ainda mais o cardápio brasileiro e substituir a sardinha também no mercado de enlatados.

A busca por informações sobre a criação, reprodução e comercialização de lambaris é crescente e levou o Instituto de Pesca da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento a promover, em março, o primeiro curso sobre o tema na história da instituição.

A teoria, ensinada no auditório do instituto, na capital paulistana, e a prática, demonstrada na Estação de Hidrobiologia e Aqüicultura da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em Paraibuna, atraiu desde amantes da pesca esportiva, pesquisadores, consultores em piscicultura, biólogos e criadores de outros tipos de peixes até aposentados interessados em investir em alguma atividade prazerosa e rentável. Além daqueles que preferiram se auto-intitular “curiosos profissionais”.

De acordo com a coordenadora do curso e diretora do Centro de Ação Regional do Instituto de Pesca, Maria Aparecida Guimarães Ribeiro, a experiência com os 25 participantes teve bons resultados e a repercussão do encontro motivou a preparação de outro evento, programado para ocorrer em setembro.

Dificuldades

Para começar a criação de lambaris não é necessário um tanque muito grande, garantem especialistas. Um reservatório de porte médio, em formato redondo e afunilado para garantir o movimento e oxigenação da água, facilita o cultivo. O lambari precisa de oxigênio e não o consegue em locais com água parada. “Mas não é só isso”, alerta Maria Aparecida.

O criador em potencial precisa saber para que quer iniciar a atividade e para quem vai vender seu peixe, literalmente. “Será que na região em que está esse investidor compensa iniciar o cultivo?”, questiona a coordenadora do curso, que já deu palestras sobre o assunto em Rio Bonito (RJ).

O Vale do Paraíba e a região de Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Paulicéia têm, segundo especialistas presentes no curso, bom potencial de exploração dessa recente modalidade da piscicultura.

A agregação de valor ao lambari atrai mercado: 1 quilo do peixe rende até oito porções do petisco (com dez unidades), vendidas, cada uma, a um preço médio de R$ 4,00. Isso significa, no caso de uma produção própria, R$ 32,00 em um quilo.

“O criador ganha mais do que se vender o lambari para isca, quando se alcança um preço máximo de R$ 0,35 por unidade de peixe adulto e grande”, diz Maria Aparecida. “Há quem pense que o lucro é rápido e fácil, mas antes de iniciar a criação é necessário sempre saber como escoar a produção.”

Cultivo

Segundo o professor Geraldo Barbieri, ex-docente da UFSCar, hoje pertencente ao quadro do Instituto de Pesca e um dos pesquisadores mais citados em bibliografias sobre a biologia de peixes, a venda de lambaris para alimentar peixes carnívoros já é comum há cerca de dez anos no Estado de São Paulo, mas o cultivo tem registrado crescimento somente nos últimos cinco anos.

Relatórios do Ministério do Meio Ambiente indicam que a pesca extrativa representava 99,5% da pesca brasileira em 1994 e 81,1% da atividade em 1999, sinalizando uma retração da modalidade. Já a aqüicultura saltou do 0,5% de representatividade em 1994 para 18,9% em 1999. “Em 2000, o cultivo já era responsável por mais de 20% da pesca no País”, diz Barbieri.

Cotações da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) retratam que em 1999 as Centrais de Abastecimento S.A. (Ceasa) de São Paulo receberam 394,5 toneladas do peixe, o que movimentou US$ 400 mil. “Cinco anos atrás, a produção pesqueira do lambari vinha da captura. Agora, mais do cultivo, principalmente nos Estados de São Paulo, Minas e Rio”, diz Barbieri, que há 33 anos pesquisa populações naturais de peixes.

“Oportunista”

A procura pelo peixe de carne saborosa tem crescido por seu valor agregado e para povoamento em pesqueiros. As qualidades do lambari são muitas, segundo o pesquisador: é um peixe “oportunista”, ou seja, adapta-se facilmente aos ambientes e aceita uma variedade vasta de alimentos, por ser onívoro; desova mais de uma vez por ano e sua reprodução pode ser induzida e tem alta fecundidade e elevada taxa de crescimento. “A parte ruim: como é um peixe que vive em ambiente oxigenado, seu transporte é caro e sua fragilidade à poluição e ao deslocamento é muito grande.”

O maior concorrente do lambari no mercado é a manjuba, principalmente de outubro a março. “Ambas as espécies se reproduzem praticamente na mesma fase”, explica Barbieri. “Mas a manjuba sai do mercado a partir de março. Além disso, a produção de lambari está crescendo, enquanto a de manjuba está caindo, por conta da migração desse peixe para outras regiões.” Atualmente, o quilo de lambari sai por R$ 2,00 no atacado, enquanto o de manjuba chega a R$ 2,05.

Instituto de Pesca de São Paulo, (0 XX 11) 3871-7554; Cesp-Paraibuna, (0 XX 12) 3974-0050

Tatiana Fávaro