Ladrão gourmet do Masp se entrega e diz que telas iriam para a Arábia

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

sex, 25/01/2008 - 13h36 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Foragido por 20 dias, Moisés de Lima Sobrinho, de 25 anos, o terceiro acusado de furtar o Masp, em São Paulo, apresentou-se ontem com seu advogado no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Nas três horas de interrogatório, ele revelou aos policiais que as telas furtadas em 20 de dezembro – O Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, e O Lavrador de Café, de Portinari – tinham como destino um colecionador da Arábia Saudita. Contou ainda que havia feito um lista com cinco quadros para que o comprador escolhesse as obras que seriam furtadas.

Na seleção de Moisés estavam dois Renoir (As Meninas Cahen d’Anvers e Menina com as Espigas), um Van Gogh (Passeio ao Crepúsculo) e as telas furtadas. O acusado fez o seu “portfólio” depois de visitar cinco vezes o Masp.

No interrogatório, Moisés contou que repassou as informações para Robson de Jesus Jordão, de 32 anos, o Robinho, já preso. “Robinho tem ligações com o PCC”, afirmou o delegado Marcelo Teixeira, do Deic. O papel de Moisés no grupo seria o de “consultor técnico”. Ele foi responsável por mapear o Masp e suas obras, além de recomendar o uso do macaco hidráulico para abrir a porta de ferro que fechava a escadaria do museu.

O terceiro suspeito do furto das telas chegou às 10h30 ao Deic. Desde anteontem, a polícia negociava com o advogado Humberto Macchione de Paula, que defende Moisés, a sua apresentação. O acusado negou ter participado diretamente do furto – ele afirmou que ficou em casa, num local não revelado da zona leste, descansando. “Particularmente eu acredito que ele foi (participar do furto), até porque conhecia as obras. Os outros dois ladrões não conheciam nada de arte e podiam não trazê-las”, afirmou o diretor do Deic, Youssef Chahin.

Moisés afirmou que iria ficar com 20% do valor da venda das telas. Os receptadores ofereceram R$ 1 milhão pelas obras, mas, quando Robinho viu que elas valiam R$ 100 milhões, exigiu R$ 5 milhões por elas.

Filho de uma advogada que mora em Brasília e de um fazendeiro de Goiás, Moisés mudou-se para São Paulo a fim de se tornar chef de um grande restaurante, disse o advogado – o “ladrão gourmet” chegou a aparecer num programa de TV em Goiás ensinando uma receita. Moisés contou que sempre se interessou por obras de arte. “O que o levou a entrar no mundo do crime foi o desafio representado pelo furto”, disse o delegado Adílson Marcondes, do Deic.

Os ladrões que invadiram o Masp levaram 1 hora para arrombar a porta de ferro, mas apenas 3 minutos, após a entrada no museu, para sair com as telas debaixo do braço.

No dia 29 dezembro, a polícia deteve Francisco Laerton Lopes de Lima, de 33 anos. Em 8 de janeiro, a polícia prendeu Robinho e localizou os quadros na casa de Alexssandro Bezerra da Silva, de 31, em Ferraz de Vasconcelos – ele está foragido. Por enquanto, Moisés ficará cinco dias detido. A polícia vai pedir à Justiça a prorrogação do prazo de prisão.