Jardim Ângela vira exemplo contra crime

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 10 de junho de 2005

sex, 10/06/2005 - 11h57 | Do Portal do Governo

Em seis anos, a queda de homicídios foi de 73,3%, enquanto que em toda a Capital esse índice ficou em 40,6%, segundo pesquisa da Fundação Seade. O local que já foi o mais violento de São Paulo está há 50 dias sem registrar mortes violentas

BRUNO TAVARES e
CAMILLA HADDAD

O Jardim Ângela, na Zona Sul da Capital, já foi considerado pela Organização das Nações Unidas ONU o bairro mais violento do planeta. Nos ‘anos de chumbo’ – em meados de 1999 -, a polícia registrava uma média de dois assassinatos por dia. A situação começou a mudar de cinco anos para cá. E, hoje, uma das áreas mais carentes da Cidade ostenta um recorde que parecia inviável: há 50 dias não registra mortes violentas.

O resultado faz parte de um estudo elaborado pela Fundação Seade sobre a taxa de homicídios no Estado. Entre 1999 e 2004, o número de assassinatos caiu 40,6% na Capital – e 73,3% no Jardim Ângela.

O porcentual de redução também foi elevado na Baixada Santista (49,3%) e na região Metropolitana de São Paulo (39%).’Há poucos dias, a Unesco já tinha nos dado uma boa notícia sobre a queda da criminalidade. Agora, a tendência é confirmada pelos dados do Seade’, disse, ontem, o governador Geraldo Alckmin.

Mas, diante dos números, fica a pergunta: por que os indicadores de violência de São Paulo estão caindo? De acordo com o levantamento da Unesco, a receita do sucesso está na união de diversos fatores, como investimentos em segurança pública, apoio dos municípios e a mobilização da sociedade. ‘Ainda há muito o que fazer, mas, de qualquer forma, esses índices representam uma grande vitória’, comentou o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública.

Em seu discurso, Alckmin também reconheceu que só o trabalho da polícia não seria suficiente para reverter o quadro da criminalidade. ‘No Jardim Ângela, foi uma reunião de esforços, programas sociais, escolas abertas aos fins de semana, campanha do desarmamento, ONGs e trabalhos com igrejas católicas e evangélicas’, comentou o governador, destacando a região como ‘símbolo do sucesso no combate ao crime em São Paulo’.

Na base comunitária do bairro, uma das primeiras da Cidade a estreitar o contato com moradores, o clima era de festa. ‘A vizinhança me chama pelo nome, me convida para ser padrinho de filho e até para comer churrasco. Eu também conheço todos pelo nome’, conta o soldado José Iguaraian, 33 anos. ‘Esse relacionamento é fantástico e muito gratificante.’

Para o soldado, a política da boa vizinhança começou quando ele participava de ‘caravanas da cidadania’, realizadas em várias favelas da região. ‘Aos poucos, a gente vai conhecendo as famílias, sabendo as necessidades’, conta. Ele lembra de uma caso curioso. ‘Uma vez, um casal veio me pedir para preparar a separação deles. Fui eu que os encaminhei para um juiz’, lembra.

Iguarian nem pensa em sair da base. ‘Já recebi convite para atuar em outra companhia da PM, mas rejeitei’, conta o policial, que já esteve em bairros nobres, como Chácara Flora, na Zona Sul. ‘Ali é outro cenário, mas ainda prefiro aqui.’