IPT investe em laboratório de bionanotecnologia

Brasil Econômico

qui, 03/12/2009 - 7h55 | Do Portal do Governo

Iniciativa permitirá ampliar pesquisas na área cujos produtos devem movimentar US$ 2,6 trilhões em 2014

O mais moderno centro brasileiro de pesquisas em bionanotecnologia deve abrir as portas no segundo semestre de 2010, após investimentos de R$ 46 milhões. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, está construindo um prédio de 8 mil m² no qual realizará estudos em biotecnologia, tecnologia de partículas, micromanufatura e metrologia, áreas ligadas à pesquisa e à produção de materiais em dimensões centenas ou milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo.

Em alguns casos, as medidas chegam a nanômetros, isto é, unidades equivalentes à bilionésima parte de um metro. Se as dimensões são mínimas, o potencial econômico dessas tecnologias não é. Segundo levantamento da empresa de pesquisas Lux Research, realizado em 2006, a venda de produtos que incorporem nanotecnologia deve totalizar US$ 2,6 trilhões em 2014. Com o novo centro, o IPT pode ajudar as empresas brasileiras a conquistarem uma fatia desse mercado.

Atualmente, o instituto desenvolve trabalhos conjuntos com diversas companhias nacionais. A lista inclui nomes como Comgás, Vale, Petrobras, Natura, Embraer, Sabesp e Itautec, entre outras. Só com a Petrobras, são atualmente cerca de R$ 70 milhões em projetos contratados. A parceria do IPT com a companhia vai da avaliação do comportamento de plataformas petrolíferas a estudos sobre a corrosão dos dutos usados no transporte de petróleo. No último caso, a colaboração deu origem a um revestimento que evita acúmulo de substâncias e a corrosão das tubulações.

“As pesquisas desenvolvidas no centro de bionanotecnologia certamente poderão ajudar a Petrobras em outros problemas”, afirma o diretor presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira.

O IPT recebeu do governo do estado de São Paulo R$ 21 milhões para a construção do edifício do centro de bionanotecnologia, mais R$ 25 milhões para a compra de equipamentos. As obras foram iniciadas há cerca de um mês e a previsão é que a unidade fique pronta em meados de setembro de 2010.

Mais recursos

Em 2008, o orçamento do instituto ficou na casa dos R$ 120 milhões, 70% do total levantado pelo próprio IPT por meios da venda de serviços e recebimento de royalties. O restante veio do governo de São Paulo, que também está investindo R$ 122 milhões na entidade no triênio 2008-2010. Esse recurso adicional, fundamental para sua modernização, é novidade na história recente do IPT. Segundo Oliveira, até 2007 o governo estadual não investia na entidade.

Quando necessário, os recursos extras eram buscados junto a órgão de fomento como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia, e geralmente ficavam entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões anuais. Hoje, a situação do IPT é mais cômoda. Incluindo o dinheiro proveniente de órgãos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Finep, os investimentos obtidos para triênio 2008-2010 já somam R$ 302 milhões. São cerca de R$ 100 milhões por ano.

Oportunidade

Tecnologia une diferentes áreas da ciência

Segundo o diretor-presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira, ciências como Química, Biologia, Física e Engenharia estão cada vez mais próximas entre si devido ao avanço das técnicas que atuam perto das dimensões atômicas da matéria. “É o que chamamos aqui de tecnologias convergentes”, diz. Com o novo centro, a intenção do instituto é justamente explorar a interdisciplinaridade entre essas ciências. Para isso, a instituição contará com equipamentos que atuam em escalas micro e nanométrica e recursos biotecnológicos, com os quais poderá desenvolver bactérias e organismos vivos em escala muito pequena.

Além disso, na nova unidade poderão ser construídos microdispositivos eletrônicos. A nanotecnologia já é explorada pelo IPT, mas não do modo intensivo que o novo centro permitirá. Atualmente, a técnica é utilizada, por exemplo, nos laboratórios temáticos criados para lidar com determinados problemas.

Esse é o caso do Laboratório de Corrosão, que possui recursos que permitem investigar a questão também em dimensões nanoscópicas. Na nova unidade, o uso da nanociência será mais amplo. “Poderemos atuar na produção de substâncias e no modo como as reações químicas ocorrem, no desenvolvimento de recobrimentos de superfícies e também de equipamentos médicos.

“Enfim, poderemos desenvolver pesquisas em uma gama enorme de áreas”, afirma Oliveira. “Contudo, trata-de de uma área muito nova no Brasil. Algumas empresas ainda não enxergam as oportunidades existentes nesse segmento”, completa.

Mais recursos para o desenvolvimento

Nos últimos anos, houve uma mudança de postura do governo do estado no que diz respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico. É o que afirma o diretor-presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira. Segundo ele, a sociedade também está mais consciente de que o tema é fundamental para o desenvolvimento do país. “Para que haja desenvolvimento, é preciso empregos. Eles não existem sem empresas, que por sua vez precisam ser competitivas. Hoje em dia não é possível ser competitivo sem dois elementos: recursos humanos e tecnologia. Quando esses dois itens estão bem, a possibilidade de sucesso empresarial é muito maior”, diz. De acordo com Oliveira, a percepção dessa cadeia de causa e efeitos tem levado o governo a investir mais no sistema de ensino tecnológico – isto é, no Centro Paula Souza, que administra Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs).

Números do IPT

96,5 mil m2
é quanto o IPT tem de área construída, em um terreno de 240 mil m2. Apesar de estar ao lado do campus paulistano da Universidade de São Paulo (USP), na Cidade Universitária, o instituto não está vinculado à USP, mas sim a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo.

1899
é o ano de fundaçao do IPT. A instituição nasceu como Gabinete de Resistência dos Materiais (GRM) da Escola Politécnica. A denominação IPT surgiu em 1934, por decreto do governo do estado. Em 1975, o instituto passou de autarquia à empresa pública, por meio de mudança em seu estatuto autorizada pela Assembléia Legislativa do estado.

1.000
é a quantidade de pesquisadores empregados pelo IPT. Desse total, 241 possuem mestrado, 114 são doutores e 14 têm pós-doutorado. O instituto emprega ainda 275 funcionários na administração e possui 160 estagiários e bolsistas.