Instituto cria abacaxi em gomos

Folha de S. Paulo - São Paulo - Terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

ter, 15/02/2005 - 8h58 | Do Portal do Governo

Variedade tem sabor mais doce, é menos ácida e não precisa ser descascada

DA REDAÇÃO

A expressão ‘descascar o abacaxi’, utilizada para tarefas complicadas, pode cair em desuso. Isso porque chega ao mercado uma nova variedade da fruta, denominada ‘IAC gomo de mel’, que não precisa mais ser descascada para ser consumida.

De origem chinesa, o produto começou a ser desenvolvido no Brasil em 1992 pelo IAC (Instituto Agronômico) e agora chega ao consumidor. Em gomos, macio, muito doce e com baixa acidez, o novo abacaxi é tudo o que os consumidores querem de uma fruta, diz José Guedes, produtor da região de Rio Claro (SP).

Segundo o produtor, os dois principais entraves para o consumo do abacaxi são eliminados com o novo produto: a acidez e o inconveniente de descascá-lo.

O brix -aferição do teor de açúcar numa fruta- de um abacaxi tradicional é de 15. No caso do ‘gomo de mel’, é de 21 -em algumas análises, chegou a 26.

Para consumi-lo, basta cortar a coroa (parte superior da fruta) e separar os gomos de cima para baixo com uma faca pontiaguda. Quando a fruta está bem madura, a faca pode até ser dispensada.

Guedes explica que os gomos do ‘gomo de mel’ são bastante proeminentes, o que facilita sua retirada. Para consumir, basta segurar pela casca e comer o restante do gomo. O caule central também é mais mole do que o da fruta tradicional e pode ser comido.

Mercado promissor

O ‘gomo de mel’ abre novos mercados para os agricultores. É um produto de maior valor agregado e, assim, pode render mais. Um abacaxi normal rende cerca de R$ 0,70 por fruto ao produtor. O ‘gomo de mel’ rende de R$ 1 a R$ 3, dependendo do tamanho.

Guedes diz que a procura interna pelo novo abacaxi é grande, mas a oferta ainda é pequena. Por ora, o produto é vendido apenas na região de Campinas (SP).

O produtor tem atualmente 200 mil pés da fruta, mas pretende avançar para 1 milhão de pés, substituindo, aos poucos, sua lavoura de cana-de-açúcar. Guedes diz que é importante a evolução da produção também para fora de São Paulo, principalmente para os Estados de Minas Gerais, Paraíba, Ceará e Tocantins, tradicionais regiões produtoras.

Segundo o produtor, sua empresa, a JG Empreendimentos, de São Carlos, já foi procurada por exportadores, mas ainda não tem condições de manter a regularidade da oferta.

De olho no exterior

O mercado externo é importante para os produtores. Guedes diz que, no mercado europeu, o produto deve chegar a US$ 15 por unidade. Mas o produtor deve entregar ao mercado externo um produto com qualidade e isento de resíduos. A regularidade da entrega e o cumprimento dos contratos são também indispensáveis para as exportações, segundo ele.

Guedes tem 2 milhões de mudas em viveiro. Ele quer elevar a área própria e vender parte das mudas para outros Estados.

Com isso, a oferta do produto vai aumentar e os produtores poderão manter uma linha direta de fornecimento do abacaxi para o mercado externo.

Ademar Spironello, pesquisador do IAC, diz que o ‘gomo de mel’ deverá ter boa aceitação no mercado externo. O peso da fruta -de 800 g a 1.200 g- atende a uma exigência mundial de preferência por frutos menores, acrescenta. O abacaxi tradicional tem de 1,5 kg a 2 kg.

Uma recomendação do pesquisador do IAC aos novos interessados no plantio desse tipo de abacaxi: o clima deve ser quente. Essas condições são encontradas na região do centro do Estado de São Paulo até o norte do país. Spironello diz ainda que o solo deve ser arenoso ou pouco argiloso e bem drenado. (MZ)