Inseticida biológico controla a cigarrinha

Correio Popular - Campinas - Sexta-feira, 14 de maio de 2004

sex, 14/05/2004 - 9h05 | Do Portal do Governo

Produto desenvolvido por pesquisadores do Instituto Biológico de Campinas já representa uma economia de R$ 19,4 milhões em pesticidas

Maria Teresa Costa, da Agência Anhangüera

A utilização de um inseticida biológico desenvolvido pelo Centro Experimental do Instituto Biológico em Campinas por agricultores paulistas representou uma economia de R$ 19,4 milhões em pesticidas para o combate da cigarrinha da cana-de-açúcar, atualmente a principal praga dessa cultura. O valor foi economizado pelos produtores de cana em um total de 161,9 mil hectares de área tratada no Estado de São Paulo entre 2002 e 2003. Além da economia, o meio-ambiente também foi favorecido, uma vez que 3,2 mil toneladas de inseticidas químicos deixaram de ser aplicados naquela área. O bioinseticida é feito a partir do fungo Metarhizium anisopliae, que existe naturalmente no ambiente.

Esses resultados estão sendo informados agora à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), que financiou um projeto amplo em sanidade envolvendo controle de insetos, doenças e ervas daninhas que atacam a cana-de-açúcar. Foram investidos R$ 500 mil nesses projetos.

O controle biológico da cigarrinha é um braços desse projeto, que tem ainda participação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no campus de Araras.

Entre 2002 e 2003, foram produzidas 268 toneladas do inseticida biológico por empresas e usinas de São Paulo, comercializados a R$ 10,00 o quilo, gerando uma receita bruta de R$ 2,6 milhões e 148 empregos diretos. Cada hectare tratado com esse bioinseticida custa R$ 40,00 (contra R$ 120,00 dos inseticidas químicos), conforme o IB.

O coordenador do projeto, Antonio Batista Filho, diretor-geral do Instituto Biológico, explica que a cigarrinha da cana-de-açúcar está se tornando uma praga cada vez pior para esta cultura, na medida em que vai sendo abolida a queima da cana – com as queimadas, as cigarrinhas também morriam.

A Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo estima que a safra agrícola 2003/2004 de cana atingirá 234,1 milhões , volume 2,7% superior ao registrado na safra passada. O avanço de uma praga como a cigarrinha, comenta Batista, pode pôr tudo a perder, já que as plantações atacadas chegam a ter uma quebra de até 60% na produção.

As ninfas das cigarrinhas sugam a raiz da planta e injetam toxinas que fazem com que ela seque. As perfurações também abrem caminho para contaminações por microorganismos.

Fungo ataca e mata o inseto em pouco tempo

O inseticida biológico utiliza o fungo Metarhizium anisopliae, um inimigo natural da cigarrinha. No laboratório, ele se desenvolve em arroz – e é essa mistura de arroz e fungo que é entregue aos produtores de cana para ser usado na lavoura. Mas ainda é uma formulação trabalhosa no campo, porque é preciso deixar a mistura em água para poder separar o fungo do arroz e pulverizá-lo na plantação. Os pesquisadores buscam agora uma formulação mais prática, como separar o fungo do arroz ainda no laboratório ou produzir uma formulação líquida.

A cigarrinha se contamina por contato com o fungo, ao tocar os esporo dos parasitas. ‘Quando o esporo germina, produz enzimas que degradam o tegumento (casca) do inseto e ajudam o fungo a invadí-lo’, explica Antonio Batista Filho. A partir daí, a morte é só questão de tempo.

O bioinseticida, explica o pesquisador, se mostrou bastante eficaz contra as ninfas (as formas jovens das cigarrinhas), principalmente após aplicações sucessivas. ‘Boa parte da população dos insetos é eliminada nessa fase, considerada estratégica para o controle’ , diz. O Instituto Biológico vem assessorando empresas e usinas interessadas na produção do fungo para combater a praga.

A praga derrotada

Como age a cigarrinha – as ninfas, formas jovens da praga, sugam as raízes da cana-de-açúcar, retirando nutrientes que seriam utilizados pelas plantas que, em conseqüencia, apresentam-se desnutridas e desidratadas, com folhas amareladas e, posteriormente, secas. Os adultos também causam danos, pois injetam toxinas nas folhas, provocando seu amarelecimento e morte.

Conseqüências – além da perda de produtividade agrícola, as cigarrinhas provocam uma redução significativa na qualidade da matéria prima, pois ocorre uma diminuição de açúcares e aumento da quantidade de fibra, devido ao secamento dos colmos.

O que faz o inseticida biológico – o fungo Metarhizium anisopliae é um inimigo natural da cigarrinha. Quando pulverizado na lavoura, a praga se contamina ao tocar os esporos do fungo. Quando germinam, estes esporos produzem enzimas que degradam a casca do inseto e permitem ao fungo invadi-lo.

A partir daí, a morte da cigarrinha é só questão de tempo. Conforme o fungo cresce, libera toxinas que modificam o comportamento de inseto e impedem que ele se mova ou se alimente normalmente. É como se o animal embolorasse por dentro. Depois da morte do hospedeiro, o fungo produz novos esporos e o ciclo recomeça.