Indústria do interior supera a da Grande SP

Folha de S. Paulo - São Paulo - Domingo, 28 de novembro de 2004

dom, 28/11/2004 - 14h11 | Do Portal do Governo

Participação atingiu 27,1% e 20,7%, respectivamente, em 2000, diz Seade; incentivos fiscais incentivaram migração

FÁTIMA FERNANDES
ENVIADA ESPECIAL A CERQUILHO E A CONCHAS

CLAUDIA ROLLI
ENVIADA ESPECIAL A TATUÍ E A ITU

O peso da indústria no interior já supera o da Grande São Paulo. Dados da Fundação Seade mostram que, em 2000, a participação do interior na produção paulista era de 27,1% e o da região metropolitana, de 20,7%.

Essa diferença só se acentuou nos últimos quatro anos, segundo Aurílio Sérgio Caiado, pesquisador da Fundação Seade.

Com base em informações da PIA (Produção Industrial Anual) do IBGE, o pesquisador constatou que houve um salto na participação da indústria do interior no Estado de São Paulo. Em 1985, o interior participava com 22,7%, e a região metropolitana, com 29,2%.

Se nas décadas de 70 e 80 a indústria do interior se sustentou com o agronegócio -produção sucroalcooleira-, a partir dos anos 90 mudou seu perfil. Atraídas por incentivos fiscais, indústrias do setor automobilístico migraram para o interior. Mais recentemente foi a vez de o setor de tecnologia e informática procurar locais distantes da metrópole.

A ida dessas indústrias para o interior do Estado estimulou a formação de pólos produtivos, aproveitando a vocação da mão-de-obra local e a necessidade de oferecer produtos e serviços.

‘Muitos arranjos produtivos surgiram por razões históricas, como a indústria calçadista de Franca, região em que tropeiros iniciaram a produção de couro. Outros apareceram por causa dos recursos naturais da região, caso das cerâmicas de Itu e de Tatuí. E há ainda aqueles que se articularam para promover o desenvolvimento regional. É o caso das empresas de móveis de Votuporanga, que se uniram para criar um pólo’, afirma Caiado.

Limeira, que chegou a ser considerada a capital da laranja, diversificou a produção industrial e hoje se destaca na fabricação de jóias folheadas a ouro. Com 450 empresas e 20 mil trabalhadores, o pólo de Limeira fez fama até no exterior. O faturamento já está na casa dos R$ 250 milhões por ano.

‘A cidade já foi produtora de jóias. Com o encarecimento do ouro e o medo de assaltos, as empresas preferiram produzir peças folheadas. Hoje exportamos para a África, a Europa e a América Latina’, diz Dionísio Gava Jr., diretor-adjunto do Sindijóias, que representa as indústrias do setor.

O vigor da indústria do interior também foi constatado em estudo coordenado por Carlos Brandão, pesquisador do Nesur (Núcleo de Economia Social, Urbana e Regional do Instituto de Economia) da Unicamp. Na década de 80, o interior paulista abrigava cerca de 40% da indústria de transformação. Hoje, 55%.

Após um mapeamento do interior feito durante um ano, os técnicos verificaram que a redistribuição industrial no interior se intensificou. ‘Essa tendência de interiorização é resultado da crise econômica e do desespero das localidades para gerar empregos e renda’, afirma Brandão. ‘Mesmo os setores mais artesanais estão apostando suas fichas na formação de arranjos produtivos.’

‘Maduros’ colhem frutos

Os pólos que estão mais ‘maduros’ já colhem resultados positivos. Caso de Birigui, onde 60% dos empregos da cidade giram em torno da cadeia produtiva de calçados infantis. ‘O que começou com um sapateiro que veio para a cidade no final dos anos 50 se transformou em um pólo com 166 fábricas, que empregam 19 mil pessoas e produzem 230 mil pares de calçados por dia’, diz Samir Nakade, presidente do sindicato das indústrias da região.

O faturamento do pólo neste ano deve chegar a R$ 1 bilhão -33% a mais do que no ano passado. Da produção de 2003, 13,7% foi exportada para mais de 70 países. A meta é elevar o percentual para 16% neste ano.

Já a cidade de Marília se destaca com um arranjo produtivo que agrupa 70 empresas do setor de alimentos. Com 5.500 funcionários e faturamento de R$ 600 milhões anuais, exporta 20% da produção para os EUA e países latinos. Balas, biscoitos e outros produtos do pólo estão chegando agora às mesas dos asiáticos.

‘Tudo começou com empresas caseiras. Hoje a cidade abriga líderes nacionais em produção de alimentos’, afirma Paulo Boechat, diretor do Ciesp de Marília.

Mesmo em regiões onde os arranjos estão ainda se formando, o impacto já é visível. Em Tabatinga, onde foi montado há cerca de dois anos um pólo de fabricação de bichos de pelúcia, o número de minimercados cresceu de quatro para 15 e o de farmácias, de três para sete no período.
‘As fábricas criaram empregos e essa renda está circulando na cidade’, diz Aryvaldo Otávio de Almeida, presidente da Câmara Setorial de Bicho de Pelúcia, que reúne 21 empresas do ramo. Ele deixou o emprego de ajudante-geral em uma fábrica de enxovais para recém-nascidos e montou a Sonho Encantando. A fábrica faz hoje 8.000 peças e fatura cerca de R$ 60 mil por mês.

Na mira do governo de São Paulo está em estudo a formação de novos pólos. Jundiaí é um deles, com 30 empresas do setor têxtil.

Não é só no interior que os pólos estão em expansão. No Tatuapé (zona leste), 30 fabricantes de metais sanitários se unem para criar um APL. Em São Bernardo do Campo também deve ser anunciada a formação de um grupo de empresas.