Índios se preparam para lecionar

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 13 de setembro de 2007

qui, 13/09/2007 - 12h17 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Quando eram alunos, eles sofriam muito preconceito nas classes, ficavam sozinhos, não se identificavam com o que os professores diziam, mas queriam muito, muito mesmo, estudar. Agora, crescidos, eles decidiram voltar para sala de aula e querem formação específica para serem educadores. Eles são índios que vivem em São Paulo e, com o diploma do magistério na mão, pretendem levar educação para suas aldeias, sem que a cultura e a tradição de suas tribos percam espaço nos cadernos e livros.

Oitenta e um índios, selecionados nas 28 aldeias existentes em São Paulo, freqüentam o curso na Faculdade de Educação da USP. A turma de futuros professores está na última etapa da capacitação e vai se formar em abril do ano que vem. Esta é a segunda fase de um projeto, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação, iniciado em 2004.

Neste ano, 61 indígenas foram graduados para lecionar em turmas de 1ª a 4ª séries. Mas com o crescimento dos alunos, os professores precisaram ter formação também para turmas de 5ª a 8ª séries. ‘Primeiro, foi uma luta para conseguir escolas dentro das aldeias. Mas as aulas eram oferecidas por professores não índios. Com isso, ficava difícil preservar as nossas tradições, com calendários que a gente não segue’, afirma o professor do primário da tribo Tupi, de Peruíbe (litoral sul de SP), Ubiratã Awám’Baretedju, que pretende ao final do curso lecionar para a 5ª série.

Os professores, na posição de alunos, são incentivados a ler, aprendem a dar aulas de geografia, história, português, mas também formas de ensinar suas línguas de origem, por meio de métodos nada convencionais. ‘Aqui na USP, a gente aprende na sala de aula, com lousa e giz. Lá para o nosso povo, a aula começa ao ar livre, a ciência se aprende na horta e só depois vamos para sala’, disse Juraci Kunhã Yakui, única representante da tribo Pawau, em Barão de Antonina, que ainda sabe a língua indígena. ‘Só de pensar que eu posso ser professora e também ensinar a cultura do meus avôs, fico emocionada.’

Para a formação dos índios-professores, o Estado investiu R$ 7 milhões, que custeia também transporte e hospedagem. Hoje são 1.148 índios estudando nas aldeias e 237 fora delas.

‘Assistidos por antropólogos e especialistas em cultura e etnia indígena da USP, os professores indígenas levam o ensino às aldeias e também a necessidade de preservar a história de cada uma das cinco etnias existentes no Estado – guarani, tupi guarani, kerenak, terena e kaingang’, diz Lydia Menezello, responsável pela educação indígena no Estado. A aluna Catariana, mas que em sua tribo é a professora Kunhã Nimbopyrua, só agradece. ‘A gente aprende a ensinar o que estava perdido.’