Incor cria centro para treinar população a socorrer infartados

Diário de S. Paulo - 23/09/03

ter, 23/09/2003 - 11h47 | Do Portal do Governo

Luciana Sobral

Objetivo é reduzir o alto número de mortes em decorrência da demora no atendimento. O presidente Lula vai lançar programa nacional na segunda

Apenas 2% dos brasileiros que sofrem parada cardíaca, geralmente causada por um infarto, conseguem sobreviver. No Brasil, pelo menos 200 mil pessoas morrem a cada ano em decorrência de um ataque no coração. Segundo os médicos, o problema está na falta de atendimento rápido e adequado, tanto por parte dos familiares quanto dos serviços de saúde.

Preocupado com esta realidade, o Instituto do Coração (Incor) inaugurou ontem o Centro de Treinamento em Urgência e Emergência Cardiovascular, o maior da América Latina, que pretende capacitar, além dos profissionais de saúde, a população em geral. “A idéia é treinar quatro mil brasileiros por mês a reconhecer o ataque cardíaco e a socorrer o paciente de forma eficiente”, afirma o coordenador do centro, Sérgio Timerman.

De acordo com o especialista, o país registra diariamente 820 óbitos por morte súbita (quando ocorre uma interrupção do sistema elétrico do coração). “Cerca de 70% das mortes súbitas é conseqüência de um infarto. Quase todos os pacientes morrem ao chegar ao hospital”, comenta Timerman, consultor do Ministério da Saúde, que participará na segunda-feira, ao lado do presidente Lula, do lançamento de um programa brasileiro para melhorar o atendimento de urgência e emergência no país.

Para o chefe da seção de emergência do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Ari Timerman, a participação dos familiares e amigos no socorro às vítimas é fundamental para garantir a sobrevivência do paciente, principalmente nos casos de parada cardiorrespiratória. “A massagem cardíaca, por exemplo, nos primeiros 12 minutos após a parada pode salvar o paciente”, diz. O problema pode ser reconhecido quando a pessoa não respira, fica inconsciente e não tem pulso.

Em cerca de 84% dos casos, a parada cardíaca acontece em casa e sob os olhares de uma criança ou adolescente (52%). O restante ocorre em shoppings, aeroportos e grandes centros empresariais. “Daí o fato também de criarmos um treinamento para esse público”, conta Sérgio. Segundo o médico, a primeira coisa a fazer em uma ocorrência deste tipo é chamar a ambulância. “Não se deve pegar o paciente desacordado e levar para o hospital”, completa.

Até pouco tempo, os especialistas acreditavam que a massagem cardíaca deveria ser acompanhada de respiração boca-a-boca. Mas, nos últimos meses um comitê internacional reavaliou o procedimento. “Tudo bem se a pessoa não quiser fazer a respiração no paciente. A massagem pode ser suficiente”, conclui Sérgio.