Inclusão na Unicamp é bom começo

Correio Popular - Quarta-feira, dia 21 de junho de 2006

qua, 21/06/2006 - 11h06 | Do Portal do Governo

Os indicadores dão esperanças de que se possa promover a inclusão social na universidade dentro de parâmetros aceitáveis

Editorial

As iniciativas de inclusão social nas universidades públicas estão sendo adotadas de forma tímida, na expectativa da fórmula ideal do programa e sob a pressão do consenso de que qualquer forma de favorecimento a alunos poderia comprometer a qualidade do ensino. O medo do nivelamento do padrão por baixo embasa a oposição, que prefere encontrar meios alheios ao acadêmico para superar desigualdades.

O simples estabelecimento de cotas especiais, para negros ou estudantes oriundos de escolas públicas, é uma fórmula que peca pela discriminação étnica ou social, na essência de sua proposta compensatória do desfavorecimento social. Ao abrir portas privilegiadas, a universidade corre o risco de receber um universo de estudantes nem sempre qualificados para acompanhar o padrão de ensino da entidade.

Essa tese, fortemente coerente, começa a se mostrar relativa a partir da experiência levada a efeito pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que divulgou neste mês dados do seu Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), que estimula o ingresso de alunos de escolas públicas na universidade através de bônus de 30 ou 40 pontos sobre a nota final do vestibular, dada a sua origem racial ou procedência escolar. Esses jovens tiveram média mais alta no ano letivo de 2005 do que os seus colegas de classe, em 31 dos 56 cursos de graduação. Também em 31 carreiras foi constatado que alunos do Paais conseguiram melhorar seu desempenho, sendo que a nota média obtida no primeiro ano de estudo superou a pontuação do vestibular.

Na prática, é como se um aluno classificado na 50 colocação no processo seletivo ocupasse hoje o 34 lugar em seu curso, ganhando 16 posições, conforme análise apresentada pela reitoria da universidade. O levantamento também constatou o aumento do número de alunos com renda familiar até cinco salários mínimos e também do total de alunos que se declararam negros, pardos ou indígenas.

Mesmo em se tratando de um resultado parcial e de um universo relativo, os indicadores dão esperanças de que se possa promover a inclusão social dentro de parâmetros aceitáveis. A Unicamp inovou na forma de aceitação de estudantes através da mudança de critérios no exame vestibular. O resultado se mostrou positivo, ainda que a amostragem reflita apenas o primeiro ano do programa.

A análise leva a considerar todos os fatores que induziram o resultado, não sendo descartada nem mesmo a excepcional motivação dos beneficiados com o programa. O que ressalta é que, se houve medida compensatória para o ingresso dos vestibulandos, eles souberam retribuir em talento e dedicação. Ao se mostrarem capazes de compensar eventuais prejuízos, atestam também que talvez esse abismo não seja tão grande. Que desta experiência saia um modelo de integração que não seja marcado por injustiças e favorecimentos que ofendam a capacidade e inteligência de nossos estudantes.