Ilhas de excelência

Jornal da Tarde - Editorial - Terça-feira, 21 de setembro de 2004

ter, 21/09/2004 - 14h09 | Do Portal do Governo

As ilhas de excelência no serviço público não existem apenas em setores técnico-científicos – para os quais chamamos a atenção aqui dias atrás -, como o que cuida do programa de combate à aids do Ministério da Saúde, cuja qualidade levou a ONU a eleger o Brasil como centro mundial de treinamento para pessoal especializado no combate e prevenção dessa doença, ou como o Instituto Butantã, escolhido por instituições públicas americanas para produção conjunta de vacinas. Ou no Banco Central, na Receita Federal e no serviço diplomático.

Elas não apenas são mais numerosas, como podem ser encontradas em todas as áreas da administração pública – nos níveis federal, estadual e municipal – e independentemente do partido político dos governantes de plantão, como mostra reportagem de Célia Curto publicada domingo por O Estado de S. Paulo. Em outras palavras, nem tudo está perdido no serviço público brasileiro – muito pelo contrário – apesar da imagem de ineficiência e desperdício ao qual ele está comumente associado.

Quem poderia imaginar, além de um círculo muito restrito, que a Febem possui unidades como a de Pirituba, na Capital, onde 83 internos dispõem de excelentes condições de educação e recuperação: quartos e camas impecavelmente arrumados, banheiros limpos, seis refeições por dia, oficinas e cursos para todos? Os vizinhos da unidade – onde nunca houve uma só rebelião desde sua inauguração há dois anos -, que eram contra a sua instalação, acabaram se tornando parceiros em vários programas da instituição. Um exemplo que deveria ser seguido pelos prefeitos do interior que resistem à instalação de unidades em suas cidades, criando entraves ao projeto de descentralização da instituição.

Em Santo André, ao contrário da Capital onde sete moradores de rua foram brutalmente assassinados no último mês, eles recebem da prefeitura local refeições, abrigos, atendimento de saúde, programa de ressocialização, recolocação profissional e até pagamento de aluguel para deixar as ruas. A Maternidade-Escola da Vila Nova Cachoeirinha, na Capital, voltada ao atendimento de pessoas de baixa renda, tornou-se referência em gestações de risco no Estado. O número de Delegacias de Defesa da Mulher, que começaram a ser instaladas em 1985 e prestam serviço considerado excelente, é hoje de 125 em todo o Estado (9 na Capital).

O segredo de tudo isso foi resumido numa palavra pelo diretor da unidade da Febem de Pirituba, Caio Rubens de Mello Castro: dedicação. Só isso explica atitude como a da diretora da Escola Estadual de Mathias Aires, outra ilha de excelência, Marisa Bruno Russi Negrizolo, que recusou salário duas vezes maior para trabalhar numa escola particular.

Para preservar e multiplicar essas ilhas de excelência não é preciso muito: a primeira providência simples e barata – que todo governante responsável pode e deve tomar – é prestigiar e premiar os responsáveis por elas.