Ilha Solteira vira pomar de árvores em extinção

Jornal da Tarde - São Paulo - Sexta-feira, 26 de novembro de 2004

sex, 26/11/2004 - 9h22 | Do Portal do Governo

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista estão montando um banco genético de árvores em extinção para repovoar florestas e cerrados com árvores já muito raras como aroeira, jatobá, baru, peroba

CHICO SIQUEIRA

Pesquisadores da Unesp de Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, montaram um banco genético de árvores ameaçadas de extinção nas florestas e cerrado brasileiros.

As pesquisas, que começaram há 20 anos, vão desde a retirada das sementes no campo a análises do material genético em laboratórios, passando pela formação de viveiros em uma fazenda de pesquisa e extensão da Unesp em Ilha Solteira. Hoje, espécies em extinção nas matas brasileiras podem ser encontradas na fazenda para projetos de reflorestamento, como os desenvolvidos pela Cesp no Estado de São Paulo. Além de ajudar na preservação florestal, as experiências vão produzir conhecimento das espécies para os setores de farmacologia, química e física.

Com as pesquisas, será possível, por exemplo, evitar o desaparecimento da aroeira, espécie encontrada desde o nordeste brasileiro ao norte da Argentina, mas em extinção e conhecida pela madeira de longa durabilidade e alto valor comercial. Foram coletadas sementes e feitas diversas experiências com o DNA da planta. Hoje, novas aroeiras prontas para projetos de reflorestamento podem ser encontradas nos viveiros de Ilha Solteira.

A escolha da aroeira foi facilitada pelo curso de física, cujos engenheiros se interessaram pela resistência da madeira. Testes do Instituto de Pesquisas Tecnológicas IPT, da Universidade de São Paulo USP, constataram que a aroeira resiste a uma pressão maior que o concreto. Um centímetro quadrado de aroeira resiste à pressão de 696 quilos, enquanto o de concreto resiste a 250 quilos.

De acordo com o coordenador dos estudos, Mário Teixeira de Moraes, os trabalhos foram feitos com árvores dos fragmentos da Mata Atlântica no Estado de São Paulo e do Cerrado, em Mato Grosso do Sul e Goiás.

Atualmente, as pesquisas estão centralizadas no jatobá-do-cerrado e no baru, duas espécies do Cerrado, cujas sementes foram recolhidas nos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Sementes do jatobá passam por análises em laboratórios da Escola Superior Armando Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba. Depois de conhecida a variação genética, as sementes são distribuídas para o plantio.

‘Com essas experiências poderemos evitar que algumas espécies possam ser extintas das nossas florestas’, diz Moraes. Segundo ele, cerca de 20 espécies consideradas em extinção, como peroba e o capitão-do-campo, estão à disposição hoje no banco de árvores.