IAC lança variedades de cana especiais para regiões distintas

Gazeta Mercantil - Segunda-feira, 12 de abril de 2004

seg, 12/04/2004 - 9h01 | Do Portal do Governo

Agnaldo Brito

Novos cultivares são mais produtivas e resistentes a certas doenças. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lança amanhã em Sertãozinho, no interior de São Paulo, quatro novas variedades de cana-de-açúcar. Os novos cultivares trazem uma importante novidade para o setor sucroalcooleiro do Centro-Sul do País: foram desenvolvidos para condições regionais específicas de clima e solo. O desenvolvimento destes cultivares para regiões dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, altera o conceito de melhoramento do Programa Cana IAC, instituído em meados da década de 1990. A escolha de novas variedades sempre se baseou na geração de cultivares que dispunham da capacidade de adaptação em vários tipos de clima e solo.

Tudo isso com a vantagem adicional de serem resistentes a determinadas doenças e melhores em produtividade. Neste caso, as variedades próprias para uma região não poderão ser plantadas em outras áreas. Por isso, o IAC criou um folheto, uma espécie de bula que orientará os produtores sobre as condições de plantio de cada um dos cultivares.

A decisão do IAC de gerar canas regionais abre uma nova perspectiva para o programa de melhoramento e cria condições de selecionar variedades de cana mais produtivas dentro de regiões. O programa, ainda exclusivamente baseado no melhoramento clássico – com a seleção de variedades resistentes apenas com o cruzamento entre estas -, já criou nove cultivares diferentes.

Mais do que a ampliação da produtividade, a geração de novas linhagens de cana tem ajudado na diversificação de variedades plantadas, o que contribui para dar mais sustentabilidade econômica ao setor sucroalcooleiro. ‘Esta diversidade funciona quase como uma barreira genética para a entrada de novas pragas’, diz Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador e diretor do Centro Apta Cana, responsável pelo programa de melhoramento da cultura.

Ao contrário do que ocorreu nas décadas de 70, 80 e início da de 90, a diversidade de cultivares plantados nos 3,3 milhões de hectares de cana em São Paulo é imensa. ‘Atualmente, a variedade mais plantada em São Paulo cobre apenas 10% da área cultivada. Nas décadas de 70 e 80, chegou-se a ter 45% do plantio baseado numa única variedade. A fragilidade do sistema de produção era imensa’, afirma Landell.

Na década de 90, o setor caminhava para mesma concentração, quando cerca de 30% da produção era baseada na variedade SP-716163. Foi quando apareceu o surto do amarelinho da cana, quebrando boa parte da produção. Hoje, o setor sucroalcooleiro dispõe de aproximadamente 50 variedades diferentes, uma das condições que tem assegurado ao Brasil a condição de produtor mais competitivo do mercado internacional.

Infra-estrutura

Landell afirma que a decisão de partir para a criação de cultivares para áreas específicas não decorreu do esgotamento do programa de melhoramento clássico, mas das condições de testes nas estações experimentais do IAC. A instituição mantém sete estações experimentais em várias regiões do estado de São Paulo, além de uma rede de colaboração com mais de 40 empresas do setor sucroalcooleiro. O órgão considerou a partir desta infra-estrutura a possibilidade de iniciar o desenvolvimento de variedades regionais, com peculiaridades importantes para a área onde será produzida.

Os cruzamentos entre duas variedades geram por ano ao IAC mais de 150 mil cultivares diferentes. O trabalho a partir do cruzamento é longo e complicado. Para testar o desempenho deste universo, a instituição distribui cerca de 20 mil cultivares para cada estação experimental e inicia as avaliações de cada uma destas a partir de alguns requisitos: teor de sacarose, produtividade, resistência a doenças e pontos adicionais como porte da planta, capacidade de gerar uma cana ereta, entre outros aspectos.

A manipulação genética ainda não contribuiu com nenhuma variedade de cana, mas a participação da engenharia genética neste trabalho é uma questão de tempo. ‘No futuro, a engenharia genética dará uma grande ajuda em melhoramento. Esta é uma capacidade ainda em formação’, diz Landell.

Mais pesquisas

Pesquisas interessantes nesta área já estão em andamento no País. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), por exemplo, descobriu que uma das bactérias presente na cana a Leifsonia xyli tem um gene que confere resistência a toxina produzida pela bactéria Xanthomonas. A cana é sensível a esta toxina.

A equipe do Laboratório de Genética Molecular do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola já sequenciou a Leifsonia e conseguiu isolar o gene que tem esta capacidade de anular os efeitos da toxina, como um antibiótico.

O trabalho agora é provar que este gene tem esta aplicação. A descoberta pode gerar uma patente para a Esalq. A utilidade do gene seria definitiva quando este for inserido no DNA da cana, o que geraria uma variedade de cana transgênica. O trabalho ainda é acadêmico. As autorizações são exclusivas para plantios confinados destinadas apenas a estudos acadêmicos.