IAC e Unicamp querem melhorar o cafezinho

Correio Popular - Campinas - Sexta-feira, 13 de agosto de 2004

sex, 13/08/2004 - 10h26 | Do Portal do Governo

Pesquisadores das duas instituições, que já concluíram o seqüenciamento genético da planta, começam estudos para aprimorar sua qualidade

Maria Teresa Costa, da Agência Anhangüera

Com o fim do seqüenciamento do genoma do café arábica, pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) começam agora a mapear os genes envolvidos na qualidade da bebida. Ter um bebida de qualidade é essencial em um País onde o café é o quinto produto mais exportado (representa 4% das vendas brasileiras no exterior) e gera uma receita anual US$ 1,5 bilhão a US$ 2,5 bilhões.

O projeto foi submetido ao Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne 40 instituições de 12 Estados brasileiros, e é financiado pelo Conselho de Desenvolvimento da Política Cafeeira (CDPC), que congrega representantes do setor e do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Esse consórcio investiu R$ 1,8 milhão no trabalho de seqüenciamento do café arábica tipo Novo Mundo, cujo projeto foi finalizado em abril.

O Novo Mundo foi desenvolvido no IAC e hoje representa 70% do café plantado no Brasil. Metade das seqüências foram trabalhadas por uma rede de 20 laboratórios paulistas coordenada pelo pesquisador Carlos Colombo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais do IAC. A outra metade foi seqüenciada pelo Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).

Esse trabalho levou ao seqüenciamento de 155 mil trechos de DNA em dois anos, e permitiu identificar como a natureza escreveu a história dessa planta, letra por letra. Agora começa uma nova fase, para descobrir quais dessas letras (os genes) conferem quais características à planta – e a partir daí, com uso da biotecnologia, transferi-los para plantas de interesse.

O mapeamento genético que começará a ser feito vai investigar onde estão os genes relacionados à qualidade, mas desta vez em um café hibrído, o arabusta (híbrido do Coffea canephora e Coffea arabica). Há cerca de 200 plantas desse híbrido no centro do IAC em Mococa. ‘Vamos ver o que fornece boa bebida em pesquisas de campo e encontrar, em laboratório, onde estão localizados, no cromossomo, o gene que dá essa característica’, explica Colombo.

O projeto avançará em duas frentes de pesquisa. Uma será trabalhada pelo pesquisador da Unicamp Paulo Mazzafera, que cuidará da análise bioquímica. A outra, feita pelo próprio Colombo, vai fazer a análise molecular. O café híbrido, explica Colombo, é resultado do cruzamento de uma mãe do tipo Bourbon, que tem boa bebida, com um pai Caneohera, que tem bebida ruim.

Ele explica que a torcida é para que os genes envolvidos na qualidade da bebida esteja no mesmo cromossomo, porque isso facilitaria a transferência futura de um bloco de genes para uma planta.

Trabalho tem prazo: dois anos

Nos próximos dois anos, as instituições de pesquisa que participaram do seqüenciamento do genoma do café terão acesso livre as seqüências de genes que estão depositadas em um banco de dados. Esse é o tempo que terão para trabalhar e tentar identificar naquele banco os genes que conferem características de interesse ao café. Depois disso, o banco será aberto tanto para o setor público quanto privado, que poderão consultar o material pagando royalties.

Os próximos dois anos serão, portanto, uma corrida para identificar e patentear os genes de interesse. Depois disso, instituições internacionais também terão acesso ao banco – e aí o País correrá o risco de ter de pagar por patentes de genes que foram seqüenciados aqui. ‘É um risco muito grande’, observa o coordenador do Projeto Genoma do Café em São Paulo, Carlos Colombo.

Essa semana foi assinado em Brasília, por representantes do consórcio formado para o Projeto Genoma do Café, um acordo que definiu as regras de acesso ao banco de dados.

Todas as informações genéticas disponíveis serão guardadas pela Rede de Genomas Agronômicos e Ambientais de São Paulo e, em Brasília, pelo Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O pesquisador lembra que dos resultados obtidos com o Projeto Genoma do Café depende a manutenção do Brasil no cenário mundial da cafeicultura. Agora, as pesquisas envolverão a comparação das seqüências de genes feita com base em bancos internacionais para então identificar quais genes são diferentes entre si.

Um edital foi aberto para a recepção de propostas de projetos que o consórcio deverá financiar e os resultados deverão ser conhecidos em setembro. O consórcio vai investir R$ 2,5 milhões na segunda etapa do projeto, chamado de Genoma Funcional.

O trabalho de mapeamento feito atá agora se insere no chamado Genoma Funcional, fase que se segue ao seqüenciamento. O seqüenciamento mostrou que pelo menos 30 mil genes são responsáveis por características importantes de resistência à pragas, de qualidade da bebida e de tempo de maturação dos frutos, entre outros.