Em São José do Rio Preto, centro infantil de cirurgias cardíacas tem capacidade ociosa, enquanto o resto do País sofre com espera
Chico Siqueira
ARAÇATUBA – O serviço de cirurgias cardíacas para crianças do Hospital de Base de São José do Rio Preto, a 440 quilômetros de São Paulo, completa três anos com uma história diferente daquela vivida pelos outros principais centros especializados do País. Enquanto todos estão lotados, com filas de espera, o centro de Rio Preto necessita de pacientes para acabar com a ociosidade. Pacientes, diga-se, que serão atendidos na hora e pelo Serviço Único de Saúde (SUS).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, todos os anos nascem no Brasil 23 mil crianças com problemas de coração e que precisam passar por cirurgia para ter esperança de vida. Mas só 8 mil delas são efetivamente operadas. O restante tem de enfrentar fila e contar com a sorte, pois a maioria morre antes de passar pela intervenção cirúrgica. A fila ocorre porque há poucos centros especializados no País. Os principais estão nas regiões Sul e Sudeste – 5 em São Paulo, 1 em Minas, 1 no Paraná e outro no Rio Grande do Sul. Em 2002, o déficit de atendimento atingiu 65% nas regiões Norte e Nordeste e 57,6% na região Sudeste, segundo dados do Ministério da Saúde.
Em São José do Rio Preto, o Hospital de Base tem capacidade para realizar de 40 a 50 cirurgias mensais, mas faz apenas uma média de 20. Não faz mais por falta de paciente. De acordo com o cardiologista Ulisses Croti, chefe do serviço, o hospital tenta há dois anos ampliar o atendimento, mas emperra na falta de conhecimento do serviço pela população e na cultura dos médicos do interior, que preferem enviar os pacientes para grandes centros.
‘Muitos preferem encaminhar os pacientes para o Instituto do Coração (Incor) ou para o Dante Pazzanese, em São Paulo, mesmo sabendo que nosso serviço é de referência’, diz. Os outros centros da capital paulista estão na Beneficência Portuguesa e no Hospital do Coração, onde há filas.
Dos 650 pacientes operados em Rio Preto, em 92% dos casos o tratamento foi custeado pelo SUS e em 8% por convênios particulares.
Cerca de 100 profissionais trabalham no serviço do Hospital de Base, que tem um centro cirúrgico de última geração e UTI de 16 leitos, ambos exclusivos para crianças com cardiopatias congênitas.
GOVERNO PREOCUPADO
Ulisses Croti, que é diretor científico do Departamento de Cirurgia Cardíaca Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), diz que o Governo Federal está preocupado com elevado número de crianças que nascem com problemas de coração, ficam sem atendimento e acabam morrendo na fila de espera. Segundo ele, não há números oficiais sobre óbitos, mas estima-se que a maioria acaba morrendo sem receber atendimento adequado.
O Ministério da Saúde está cadastrando todos os centros existentes no País. A intenção é estabelecer critérios para atendimento, em níveis 1, 2 (ambos de menor risco) e 3 (casos mais graves). ‘Com isso, pode-se evitar que pacientes menos graves engrossem as filas de centros altamente especializados’, diz Croti