Hospital psiquiátrico de SP antecipa a folia

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ter, 29/01/2008 - 12h34 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Aqui, a noção de tempo nem sempre faz sentido. Talvez por isso, no sábado, uma semana antes do carnaval, cerca de 50 pacientes psiquiátricos do Hospital Estadual Professor Cantídio de Moura de Campos, em Botucatu, no interior do Estado, começaram a comemorar.

Por volta das 16 horas, os internos se juntaram a pouco mais de 20 integrantes do Rabo de Galo, bloco animado pelas antigas marchinhas e sambas-enredo. A idéia de trazê-lo para dentro do hospital partiu da enfermeira Marcela Martins Furlan, de 29 anos, integrante do Rabo de Galo.

É o segundo ano consecutivo em que o encontro acontece. Em 2007, além da festa antecipada, uma semana depois (no sábado de carnaval), os internos saíram às ruas da cidade, em meio aos foliões, e foram levados a uma matinê em um clube.

A festa é uma tentativa de reinseri-los na sociedade. “A maioria dos que estão aqui não tem família. Os que têm, já perderam os vínculos”, diz a coordenadora das unidades de moradia do hospital, Luciana Cristina Spadin.

Lourival Pereira da Silva é um deles. Ex-interno do manicômio judicial de Franco da Rocha, ninguém sabe o que o levou para lá. Fato é que, há mais de 30 anos, veio parar no Cantídio. Aos 74 anos, exibe postura ereta e elegância ao andar. Nas festas, o traje é sapato bicolor, terno, gravata e boina de lã. No sábado, abriu exceção para as duas horas de festa. Livrou-se do paletó, da gravata e da boina, mas não dispensou o colete.

Hoje, dos 94 pacientes crônicos do Cantídio, 31 moram em casas ao lado das alas de internação. Ali, levam uma vida a mais normal possível. “Eles estão pela cidade, vão ao cinema e freqüentam o comércio”, diz a diretora técnica do hospital, Marly Tieghi de Mello. Ela afirma que nunca tiveram problemas com os pacientes fora do ambiente hospitalar.