“Hospital não terá só parte assistencial”

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 8 de abril de 2008

ter, 08/04/2008 - 10h49 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira – ex-Instituto Doutor Arnaldo e ex-Instituto da Mulher – será o primeiro centro de pesquisas da América Latina a desenvolver estudos com uma técnica de diagnóstico por imagem chamada ‘molecular imaging’. O procedimento permite investigar as alterações moleculares dos tumores e mapear a predisposição para o desenvolvimento da doença.

Em entrevista exclusiva ao Estado, o diretor do Instituto do Câncer, Giovanni Guido Cerri, afirma que a pesquisa – que parte de um acordo de R$ 4 milhões firmado com a multinacional G&E para o fornecimento do equipamento necessário – vai possibilitar aos médicos entender melhor o desenvolvimento dos tumores e realizar investimentos em novos remédios para o tratamento da doença.

Como será feito o desenvolvimento de pesquisas no instituto?

O que foi decidido na ativação desse hospital é que ele não teria apenas a parte assistencial, mas que grande parte das atividades seria centrada em pesquisa e inovação tecnológica, pesquisas clínicas e com fármacos. Essas pesquisas serão feitas com o suporte da infra-estrutura já existente da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas. Teremos um andar inteiro voltado para pesquisas em oncologia.

Existe alguma linha de pesquisa em andamento?

Estamos instalando no complexo um aparelho de Ciclotron, um equipamento que produz radioisótopos, entre eles o FDG, que é utilizado no (tomógrafo) PET CT. Ele produz uma série de radioisótopos, entre eles alguns chamados de radioisótopos de vida ultracurta que só podem ser utilizados com o Ciclotron. Estamos instalando um PET CT e um mini PET CT para o estudo de animais, como camundongos.

Qual o alcance disso?

Isso será importante porque poderemos fazer simulações com fármacos, induzir tumores e verificar como é feito o diagnóstico. Tudo isso está relacionado com a maior fronteira do estudo do câncer, que é o molecular imaging. Isso é a possibilidade de estudar as modificações moleculares que existem na célula em doenças como o câncer. Com isso será possível mostrar as alterações bioquímicas, biológicas e moleculares da célula, ao lado das alterações anatômicas. Hoje todo o diagnóstico do câncer é muito baseado na análise das alterações, em ver o tumor crescendo. Agora, com o molecular imaging, a intenção é entrar na célula e estudar essas alterações que vão provocar o surgimento da doença. Nada disso é feito no Brasil ou na América Latina.

Como estão sendo feito os acordos de parcerias de pesquisa?

O instituto será aberto, vai estabelecer relações com instituições nacionais e internacionais que estejam no mesmo nível de pesquisas da Faculdade de Medicina. Já discutimos com os hospitais A.C. Camargo e Sírio-Libanês a possibilidade de desenvolver projetos comuns. Também já tivemos vários contatos com a Fundação Ludwig. Por enquanto, como o instituto ainda não está aberto, isso será feito após começarmos a funcionar.

Já existem previsões para o desenvolvimento de fármacos?

Isso é feito em parceria com a indústria farmacêutica, por isso está muito vinculado à pesquisa clínica. À medida que se começa a estudar o comportamento biológico do tumor e a detectar essas anomalias, vão se criando fármacos que, associados aos radioisótopos, podem interromper a progressão da célula com alterações moleculares ou podem destruí-la em nível intracelular, antes que o câncer apareça. Esse é o futuro, é o grande desafio da medicina: não ter que extirpar o tumor, mas impedir que ele apareça.

Quem é: Giovanni Guido Cerr

Diretor do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira que deve ser aberto em maio

É médico oncologista e professor titular de radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo