Histórias de vida viram homenagem a Villa-Lobos

O Estado de S. Paulo

ter, 22/09/2009 - 8h40 | Do Portal do Governo

Coreografia de espetáculo foi criada a partir das origens dos dançarinos

O compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), autor de obras como Bachianas Brasileiras e a série Choros, inovou ao unir música erudita a sons que lembrassem a formação do País – queria levar o som da mata, dos índios, as cantigas, choros e sambas à alta cultura nacional. Sua intenção, sabidamente, era ressaltar origens. No cinquentenário da morte do compositor, um grupo de 40 jovens de áreas carentes da capital – a maioria de Cidade Tiradentes, no extremo leste – fizeram mergulho semelhante no passado e, com o que descobriram, criaram uma original coreografia, baseada em suas próprias histórias de vida. 

O resultado é o espetáculo Villa-Luz, que poderá ser conferido hoje e amanhã no Theatro São Pedro, na Barra Funda, com entrada gratuita. “Entre março e julho os jovens tiveram de entrevistar parentes e procurar fotos antigas para descobrir suas origens. Das influências que encontramos, construímos a coreografia”, explica a coreógrafa Susana Yamauchi, responsável pela montagem, parte do programa Fábricas de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura. “É uma bela forma de homenagear um compositor que tanto pensou em ressaltar as origens do país em que morava.” O Villa-Luz, com 1 hora de duração, é o primeiro de dez espetáculos em homenagem ao compositor, marcados para novembro. 

“Percebemos que nas origens das famílias dos adolescentes o tema mais recorrente era a cultura africana. O resultado foi uma coreografia com movimentos redondos e ondulantes e forte batida dos tambores”, conta Susana. “A beleza em fazer coreografia baseada na história de quem a reproduz é que os movimentos ficam soltos, leves. A batida já faz parte da linguagem corporal dos jovens.” 

Ao longo do espetáculo – após a abertura, uma clara homenagem ao compositor, na qual todos os 40 jovens estarão vestidos como maestros -, há passagens familiares aos dançarinos. Está lá, por exemplo, a “cena das lavadeiras” – baseada na história da avó de um dos dançarinos, que tinha como profissão lavar roupa no Rio São Francisco. Também estão lá os tambores tocados pelo avô de Tamires Sousa dos Santos, de 18 anos, que levou a inspiração à coreógrafa por meio de uma fotografia amarelada, retirada de um baú perdido em casa. 

“Você imagina que nem conheci o meu avô. Mas, para ajudar na criação da coreografia, trouxe uma foto dele tocando no Nordeste e ela inspirou boa parte da dança. Sensacional a ideia de homenagear tanto Villa-Lobos, que passamos a conhecer melhor, quanto nossas próprias famílias”, disse Tamires, moradora do Jardim Arpoador, na zona oeste. 

Além de servir de temática central do espetáculo, a obra de Villa-Lobos está distribuída em cenas como a série Descobrimento do Brasil (1937) – presente no espetáculo por conta dos antepassados indígenas de vários dançarinos – e Fantasia (1958). “Com sua obra, Villa-Lobos fez uma viagem ao fundo da alma do brasileiro. Na nossa homenagem, tentamos fazer uma viagem ao centro de cada um dos dançarinos”, conta Susana. “O público vai perceber que esses jovens são parte da dança.” 

Villa-Luz: Theatro São Pedro (Rua Barra Funda, 171). Hoje e amanhã, às 19 horas. Grátis. É preciso retirar os ingressos com 1 hora de antecedência. Informações: 3667-0499