HC vai dobrar cirurgias de redução do estômago

Correio Popular - Campinas - Quarta-feira, 12 de maio de 2004

qua, 12/05/2004 - 9h37 | Do Portal do Governo

Unicamp passará a fazer, daqui a um mês, quatro operações por semana; Hospital Estadual de Sumaré também deve adotar procedimento em breve

Delma Medeiros, da Agência Anhangüera

O Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está em vias de dobrar o volume de cirurgias bariátricas (de redução de estômago). A ampliação é resultado da readequação do atendimento do HC, implantado a partir de 5 de abril, que incluiu reserva de leitos para procedimentos estratégicos. O cirurgião Elinton Adami Chaim, do Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do HC, diz que a média de duas cirurgias semanais realizadas atualmente vai passar para quatro por semana.

Além disso, há a perspectiva de, a curto prazo, iniciar o procedimento também no Hospital Estadual de Sumaré (uma por semana), atendendo os candidatos cadastrados no HC. A fila de espera hoje é de mais de 1,5 mil candidatos, que chegam a esperar até 15 anos pela cirurgia. “Cinco cirurgias por semana pode parecer pouco, mas representa um grande benefício para os pacientes que aguardam na fila”, avalia Chaim.

Segundo Chiam, a ampliação deve ocorrer em 30 dias, tempo necessário para suprir o serviço dos equipamentos especiais (cama, cadeiras de rodas etc) necessários. O cirurgião José Carlos Pareja, coordenador do Ambulatório, frisa que a demanda pelo serviço é crescente. Ele afirma que a fila só não está maior porque o serviço limita os novos atendimentos a um ou dois pacientes por semana. “Senão, não daríamos conta de atender a todos”, explica. Segundo Pareja, o objetivo é restringir o cadastro para tentar zerar a fila de pacientes graves – com peso de duas a três vezes acima do normal. O Ambulatório registra mais de 100 pacientes nesta situação, que necessitam da operação com urgência. “Se não forem operados, esses pacientes correm risco de morrer em um ou dois anos”. O cirurgião explica que, numa pessoa com o dobro do peso normal, o coração e outros órgãos têm que trabalhar dobrado.

A ampliação do número de cirurgias vai auxiliar pessoas como Luciana Pereira da Silva Fonseca, 29 anos, que tem no procedimento a única esperança de melhora da qualidade de vida. Ela sofre há anos com a obesidade mórbida, sem conseguir controlar o peso. Luciana já participou do programa da Unicamp, mas quando estava para fazer a cirurgia, no início de 2001, descobriu que estava grávida e a operação foi adiada. Apesar do alto risco, a gravidez foi a termo e nasceu Samuel, hoje com 2,9 anos. Mas, os problemas se agravaram. Devido ao excesso de gordura a cicatrização da cesárea demorou mais de um ano, e nesse tempo ela engordou ainda mais. Em 2001 ela estava com 210 quilos. Hoje está com quase 260 quilos.

Como conseqüência, ela tem hipertensão, diabetes, infecção urinária, síndrome do pânico, depressão, e mal consegue se locomover, porque a rótula do joelho não suporta o peso e se desloca. “Tenho medo de ficar sozinha e fico deprimida por não conseguir cuidar da minha casa, nem brincar com meu filho”, diz Luciana. Ela começou a engordar aos 15 anos, quando casou e passou a tomar pílula anticoncepcional. Em três meses passou de 55 para 90 quilos e não parou mais.

Devido à gravidade do caso, Luciana entrou na relação de casos urgentes da Unicamp e deve ser internada nos próximos dias. Pareja explica que com o peso atual, se entrar em cirurgia, ela corre o risco de não sobreviver. “Ela precisa perder de 30 a 40 quilos para ter boas condições para a operação”, afirma. Ela vai ficar internada por um mês, se alimentando somente de líquidos para perder peso rapidamente. “Estou disposta a fazer o que for preciso. Quero cuidar do meu lar e do meu filho”, arremata.

Última alternativa

Para os obesos mórbidos – pessoas com índice de massa corporal superior a 40 – a cirurgia bariátrica é a última alternativa de recuperar o controle sobre o próprio corpo. “Hoje, o único tratamento eficaz para obesos mórbidos é a cirurgia”, afirma o cirurgião José Carlos Pareja, coordenador do Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas da Unicamp. Ele explica que alguns obesos até conseguem perder peso com regimes rigorosos, mas em geral voltam a engordar tão logo interrompem o regime. Segundo o cirurgião Nilton Aranha, que atende no Centro Médico de Campinas (CMC) e Clínica Lane, somente de 4% a 5% dos obesos mórbidos que emagrecem com dieta conseguem manter o peso saudável. “Os pacientes conseguem perder 20, 30 quilos ou mais. O drama é a manutenção”, afirma, frisando que, em geral, as pessoas não incorporam os novos hábitos alimentares e de atividades físicas. “Para controlar o peso, é preciso manter alimentação equilibrada e atividade física regular e intensa pelo resto da vida”, destaca, frisando que a maioria dos obesos que emagrecem sem cirurgia recuperam o peso anterior em menos de um ano.

Aranha explica que a cirurgia é eficaz porque é um benefício que perdura, funcionando como um policiamento para a vida toda. Quatro fatores atuam para o bom resultado da cirurgia bariátrica: a pessoa praticamente não tem fome, se satisfaz com pequenas quantidades de alimento, o pouco que come não é totalmente absorvido pelo organismo (a operação altera o caminho dos alimentos até o intestino), e os erros alimentares causam mal-estar. “Se a pessoa substituir uma refeição equilibrada por um sorvetão, por exemplo, o organismo se ressente e ela passa mal”, comenta. “Por isso o sucesso é duradouro que apenas a dieta em geral não consegue”.

Os especialistas frisam que a primeira opção para perder peso é sempre o controle alimentar. A cirurgia é indicada em casos de obesidade mórbida e quando o paciente já tentou outros tratamentos sem sucesso. A nutricionista Daniela Mônaco, do CMC, diz que o controle do peso implica numa mudança de hábitos para a vida toda. Ela explica que não há fórmula mágica, mas uma boa orientação ajuda. Segundo Daniela, as dietas rígidas e inflexíveis em geral funcionam por um tempo curto e levam à compulsão alimentar. “O ideal é fazer um plano alimentar educativo, não tão restritivo, que leve em conta o que é importante para o paciente”, orienta. Segundo Aranha, quanto mais restritiva a dieta, mais rápido ela é abandonada e a pessoa retoma os velhos e maus hábitos”.