HC muda tudo no sistema de consultas

O Estado de S. Paulo - Sexta-feira, 8 de julho de 2005

sex, 08/07/2005 - 9h23 | Do Portal do Governo

A partir do dia 1.º, pacientes não poderão mais marcar atendimento no Hospital das Clínicas, nem por telefone, nem pessoalmente. Triagem será feita nas unidades básicas

Adriana Dias Lopes

No dia 1º, o Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, o maior complexo hospitalar da América Latina, vai sofrer uma mudança jamais vista em seu sistema de consultas. A partir dessa data, os pacientes não poderão mais marcar atendimento direto no HC. Eles serão encaminhados pelas 462 Unidades Básicas de Saúde (UBS) – onde atualmente têm de pegar uma autorização médica para chegar ao HC – para um dos 13 ambulatórios especializados da cidade.
Os ambulatórios são postos estaduais capacitados para atender pacientes com doenças de média complexidade (cardiologia e oncologia, por exemplo).

De lá, serão transferidos para o HC só os casos de altíssima complexidade, como transplantes e cirurgias neurológicas. Para atender à demanda, a Secretaria do Estado de Saúde abriu mais 30 mil vagas de atendimento nesses ambulatórios (de 106 mil passarão a ser 136 mil). ‘Os ambulatórios estão muito bem preparados.

O paciente não procurava esses ambulatórios por uma questão cultural’, garante José Manoel de Camargo Teixeira, presidente do HC. ‘Tanto os médicos dos ambulatórios como os das UBSs vão seguir o mesmo protocolo de atendimento do HC’, complementa Waldemir Washington Rezende, diretor-executivo do Instituto Central do HC. ‘Além disso, a diretoria médica do hospital vai acompanhar o passo-a-passo do processo, inclusive com o fornecimento de remédios aos postos.’ O novo projeto de atendimento vem sendo elaborado há dois anos pelo HC e pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde.

Os pacientes que ligarem para o Instituto Central do HC a partir do dia 1º para marcar a primeira consulta vão, então, receber a notícia de que deverão ser encaminhados pelas UBSs para um ambulatório de especialidade por meio de uma gravação. Ao mesmo tempo, nas próprias UBSs, eles serão avisados da mudança quando forem retirar a autorização médica de consulta. ‘Os pacientes de baixa e média complexidades que já estão em tratamento no HC serão reencaminhados para as UBSs ou enviados para os ambulatórios gradativamente’, diz Teixeira.

Atraso

A mudança vai começar pelo maior centro do hospital, o Instituto Central, que centraliza 65% das consultas de todo o complexo. Além dele, o HC conta com mais cinco centros, como os Institutos da Criança e do Coração. ‘Até o fim do ano, todos os centros estarão enquadrados nesse novo sistema’, garante Teixeira.

De acordo com Marcos Boulos, diretor clínico do HC, o hospital está ‘recuperando 17 anos de atraso’. Ele se refere ao ano de 1988, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado. ‘Pela lógica do sistema de saúde pública, somos um hospital terciário, que serve para atender a casos complexos.’ A idéia do novo sistema de atendimento não é diminuir o número de vagas do hospital.

‘Ficarão exatamente as mesmas: 70 mil mensais. Elas apenas passarão a ter um novo perfil. O paciente de baixa e de média complexidades vai abrir espaço para os casos de alta complexidade’, conta Rezende.

O Instituto Central recebe 40 mil ligações por dia. Só 3.800 pessoas por mês conseguem marcar consulta. Detalhe: 60% das consultas ambulatoriais são de baixa e média complexidades.