HC desenvolve exercício para apnéia

Jornal da Cidade/Bauru

seg, 29/06/2009 - 9h04 | Do Portal do Governo

Tratamento para problema de sono prevê fortalecimento de músculos da garganta e chama atenção da comunidade médica

Estima-se que 30% da população tenha apnéia obstrutiva do sono. Se o nome é complicado, conviver com os sintomas é ainda mais. O problema causa roncos noturnos, acompanhados de paradas momentâneas da respiração. Normalmente, está ligado a uma maior incidência de problemas cardiovasculares. Mas uma equipe do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC), ligado à Secretaria de Estado da Saúde, desenvolveu uma série de exercícios capaz de amenizar o sofrimento.

A técnica foi apresentada em artigo publicado na revista científica internacional “American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine”. Todos os pacientes submetidos ao novo tratamento tiveram melhora do quadro, reitera o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, chefe da equipe e coordenador do estudo. Em casos mais graves, a apnéia é tratada com aparelhos portáteis (CPAP), que se acoplam ao rosto, por meio de máscara usada durante o sono.

Em grau moderado e leve, contudo, o problema persiste como um desafio para os médicos. A eficiência dos atuais métodos – aparelhos portáteis, perda de peso, cirurgia e aparelhos intraorais – varia muito em função do perfil do paciente, segundo texto publicado pela assessoria de imprensa do Incor. De acordo com o órgão de comunicação, o novo tratamento foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadores do Laboratório do Sono do Serviço de Pneumologia do instituto.

Consiste em uma série de exercícios direcionados para o fortalecimento da musculatura da língua e garganta (palato superior). Isso porque, na apnéia do sono, esses músculos relaxam além do devido e provocam o colapso da musculatura. O estreitamento da garganta decorrente desse processo resulta em paradas transitórias da respiração. Pessoas que sofrem de apnéia costumam ter a qualidade de sono comprometida pelas interrupções da oxigenação nos pulmões.

Provoca não somente sonolência continuada ao longo do dia, mas a ativação de uma cascata de mudanças no metabolismo que aceleram o processo de aterosclerose nas artérias do corpo. É bastante comum a doença estar associada a outras patologias correlacionadas a doenças do coração e dos vasos do corpo, como obesidade, hipertensão e diabetes.

Tratamentos convencionais

Qualquer tratamento tem como objetivo o alívio de sintomas, redução da mortalidade e melhora da qualidade de vida do paciente. São indicados de acordo com o diagnóstico realizado após consulta médica, odontológica e exames complementares.

Mas as recomendações tidas como gerais incluem dieta hipocalórica nos casos de obesidade, abandono de ingestão de bebidas alcoólicas, de sedativos, em especial antes de dormir, além de uma boa higiene do sono, informa o médico Roberto Gomes de Almeida, no site “Saúde em Movimento”. A terapia medicamentosa teria um modesto papel na abordagem da apnéia obstrutiva.

Quando o problema é originário de defeitos anatômicos específicos, como hipertrofia de amígdalas e adenóides, a cirurgia é indicada. Ainda segundo o especialista, os tratamentos atuais se dividem em modalidades, dependendo da freqüência das apnéias, a presença ou não de anomalias anatômicas, da fragmentação do sono, da obesidade e idade.

A indicação de prótese ventilatória-CPAP ou BIPAP é comum. Consiste na aplicação de uma pressão positiva contínua (mediante um compressor de ar e máscara nasal). O tratamento com aparelho oral também é uma possibilidade. É feito por dentista especialista.

Grupo testado com exercícios já apresenta resultados animadores

Um grupo de 31 pacientes participou do estudo do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas. Todos tinham diagnóstico de apnéia do sono de grau moderado e leve. Um subgrupo de 16 pessoas foi sorteado entre os selecionados para praticar os exercícios, com séries diárias de 30 minutos, informa a assessoria de comunicação do instituto.

Ao final de três meses, o subgrupo que foi submetido à nova técnica apresentou melhora significativa nos indicadores de apnéia. O número de cessação na respiração por hora de sono passou de 22,4 para 13,7 interrupções/hora. Segundo a assessoria, em 60% dos casos, a melhora foi tão significativa que os pacientes passaram de uma apnéia de grau moderado para leve.

“Os resultados sugerem que a nova técnica é bastante promissora para tratamento desses casos e, o que é melhor, com baixíssimo custo”, afirma o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, chefe da equipe e coordenador do estudo. Houve melhora também nos demais parâmetros do sono desse grupo de pacientes.

O escore de qualidade do sono, segundo a escala de Pittsburgh, a mais comum utilizada pelos especialistas, passou de 10,2 para 6,9 pontos. Além disso, houve diminuição na intensidade do ronco, que passou de “muito alto” para “próximo da respiração normal”.

Outro dado chamou bastante a atenção dos pesquisadores, diz Kátia Guimarães, fonoaudióloga e pós-graduanda que desenvolveu a técnica e conduziu o estudo no Incor. Houve a diminuição de, em média, um centímetro na circunferência do pescoço. “É um indicador de que, efetivamente, os exercícios remodelam as vias aéreas superiores, que resultam na melhora da apnéia.”, diz Kátia.

Não ocorreram alterações significativas no subgrupo controle de 15 pessoas participantes do estudo que, em função de sorteio, não foram submetidas à série exercícios.

Outras informações sobre o novo tratamento podem ser obtidas pelo telefone (11) 3069-5000.