Há 31 anos, rodava nosso primeiro metrô

Jornal da Tarde - 18/08/2003

seg, 18/08/2003 - 10h40 | Do Portal do Governo

O condutor e o trem daquele 6 de setembro de 1972 ainda estão na Companhia do Metropolitano de São Paulo. A largada para a fase de testes, realizada nesse dia, foi dada pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici. O começo das operações para o público ocorreu dois anos mais tarde

Como há 31 anos, Antônio Aparecido Lazarini entrou na apertada cabine da composição 33. O primeiro operador do metrô de São Paulo estava à vontade. Afinal, foi ali que, no dia 6 de setembro de 1972, ele deu a largada no mais eficiente sistema de transporte público da cidade. A dupla – Lazarini e o trem – ainda está na ativa e comemora esta semana mais um ano nos trilhos.

Lazarini chegou à Companhia do Metropolitano de São Paulo por acaso. Nascido em Tabatinga, interior paulista, trabalhava como mecânico de aviões da Varig. E foi o sonho de trabalhar no céu que o levou para debaixo da terra.

‘Fazia curso para mecânico de aeronaves quando um psicólogo do metrô fez a proposta. Como o nível de exigência na aviação é alto, decidiram procurar pessoas com esse preparo.’

Viagens subterrâneas, na época, eram motivo de temor para alguns. Mas Lazarini – e três colegas – aceitaram o desafio ‘de pronto’. Além de ser novidade, a opção significava aumento de salário. Como mecânico, ele ganhava Cr$ 625 por mês. No metrô, chegaria a Cr$ 1.350.

A troca, porém, não foi aprovada pelos pais. ‘Quando fui contar que tinha mudado de emprego, meu pai quase me matou. Dizia que eu não deveria ter trocado o certo pelo incerto’, conta. Pouco tempo depois, ao ver a foto do filho estampada nos jornais, mudou de opinião.

Em 10 de agosto daquele 1972, os ‘escolhidos’ fizeram entrevistas e exames médicos. Oito dias depois, o primeiro protótipo – a composição 33 – chegava ao pátio da companhia, na estação Jabaquara. Os dois vagões vinham da fábrica da Mafersa Material Ferroviário, na Lapa. A construção dependia de licença de uma empresa americana.

A cerimônia de início da fase de testes foi marcada para o dia 6 de setembro, com a presença do então presidente Emílio Garrastazu Médici. Pouco antes, técnicos do metrô e de companhias estrangeiras revisaram os equipamentos.

No dia da festa, a segurança do general vetou a viagem. Até então, ninguém havia sido transportado. De cima do palco construído no pátio do Jabaquara, Médici acionou o botão que, simbolicamente, inaugurou o primeiro metrô do País. O percurso experimental, com cerca de 400 metros, foi percorrido a 20 quilômetros por hora. Do lado de fora, cerca de 2 mil pessoas aplaudiam.

‘Por causa do botão, muitas pessoas imaginavam que havia um piloto automático’, conta Lazarini, que tinha 20 anos. ‘Mas assim que o presidente Médici apertou o botão, uma sirene tocou na cabine do trem. Era o sinal para acelerar.’

Os testes, antes de o metrô abrir ao público, duraram dois anos. Na maioria das vezes, ocorriam à noite, pois as escavações eram de dia. ‘Para simular viagens com o peso máximo, colocávamos pedaços de ferro e sacos de areia nos vagões.’

O protótipo, que mais tarde ganharia a identificação de composição 33, não tinha bancos nem revestimento. Foi o último a receber acabamento e voltar para os trilhos quando o metrô iniciou sua operação, em 14 de setembro de 1974. Já rodou quase 3 milhões de quilômetros – quatro viagens ida e volta à lua. Ainda opera na Linha 1 (Azul), entre o Jabaquara e Tucuruvi.

Lazarini, o primeiro operador, também continua na companhia. Com novos operadores admitidos, passou para o treinamento. Foi chefe de linha e hoje, aos 51 anos, é assistente do gerente de operações. ‘Tenho orgulho de ter ajudado a construir o metrô. É como se eu fosse um pouco dono de tudo isso.’

Bruno Tavares