Heloísa Lupinacci
Folha de S. Paulo – Segunda-feira, dia 21 de julho de 2003
No Palácio dos Bandeirantes, Celso Esótico apresenta pinturas, gravuras, móveis e louças com diversos ‘causos’
Com atmosfera diferente da do Palácio da Boa Vista, em Campos do Jordão, o Palácio dos Bandeirantes, no bairro do Morumbi, na capital, não tem nada de bucólico. O clima que impera é o de oficialidade, mas o guia Celso Esótico rompe essa formalidade.
A visita à sede do governo supera o simples fato de conhecer as obras de arte expostas em diversas salas e corredores do prédio.
Esótico apresenta quadros, esculturas, louças, cômodos e espaços, salpicando informações históricas e sobre o cotidiano oficial com raro sentimento.
Ao entrar no palácio, uma coleção de cusquenhos, quadros feitos em Cusco (Peru) com imagens de santos e cheios de simbologia, esparramam-se pela pequena escada que leva à recepção. O primeiro recinto visitado é o hall nobre, um monumental salão, com portas que servem de vitrine de São Paulo: dali se tem uma vista do horizonte metropolitano que dá inveja a qualquer paulistano desvairado por sua cidade.
O ‘skyline’ está na parede oposta à que ostenta o painel principal do palácio: ‘São Paulo -Brasil: Criação, Expansão e Desenvolvimento’, de Antonio Henrique Amaral.
O salão, entre essas belas paredes, abriga ainda o quadro ‘Festa do Divino em Parati’ (1962), de Djanira da Mota e Silva. Do outro lado, há uma cômoda de guardar roupas, com gavetas enormes, do século 17, quando esse mobiliário guardava vestidos bufantes, daí a sua grandeza. O móvel é destacado pelo seu material: o jacarandá claro, madeira já extinta.
Do teto, pende uma lâmpada do século 19, portuguesa, que tem 80 quilos de prata.
Dali, ruma-se para salas como a dos pratos -onde ficam expostos jogos de louças comprados pelo governo e peças de jogos de famílias tradicionais paulistanas, ostentando monogramas como FM, de Francisco Morato, chamadas abrasonadas- e a barroca, que guarda uma obra de Aleijadinho, a ‘São João de Botas’, e também de Mestre Ataíde, além de um oratório de viagem, usado nas expedições dos bandeirantes.
Na visita, percorre-se o térreo e o primeiro andar do prédio, onde está a galeria de retratos dos governadores. Ali estão as louças usadas na residência oficial atualmente, além de modelos antigos.
De cada parede, pendem gravuras e pinturas. Do solo, emergem pedestais que exibem esculturas. E o dedicado Esótico a contar sobre a bandeira, o brasão, a revolução e outros ícones paulistas ou paulistanos, enquanto diz ‘bom-dia’ a um dos cerca de 1.200 funcionários palacianos.
Com sorte, em um dia calmo e com um grupo pequeno, é possível negociar a ida a áreas não abertas à visitação. Mas, dificilmente, o visitante chega perto de locais onde o governador labuta.
Na sala de despachos, a mais curiosa história do acervo exótico de Esótico. A janela central, que dá vista para os mastros que ostentam as bandeiras do Brasil e do Estado, é blindada. Isso porque, na época da ditadura, o governador ficava ali para ver o hastear das bandeiras. Em nome da segurança, o vidro foi blindado.
História
O prédio do palácio foi construído para ser a faculdade ‘Fundação Conde Francisco Matarazzo’. Em 1964, foi desapropriado por Adhemar de Barros, então governador, para servir de sede do governo do Estado.
Sob a batuta de Abreu Sodré, o governo começou a adquirir as peças que hoje formam o acervo. O encarregado pelas aquisições era Luís Arrobas Martins, que frequentemente montava comissões para avaliar valores de obras e o que deveria ser comprado. Em 1985, Radha Abramo criou a área técnica para cuidar do acervo, da equipe, da titulação, da criação de blocos, enfim, tocar a estrutura para conservar as obras.
O acervo do governo de São Paulo conta com 2.697 números de patrimônio, que podem remeter a um quadro ou a um aparelho de jantar de 179 peças.
Para uma visita guiada, é preciso agendar horário na recepção. Assim, evita-se o constrangimento de ir até lá e não poder entrar por conta de eventos oficiais. Para uma visita turbinada, exija o acompanhamento de Esótico.
Palácio dos Bandeirantes – Av. Morumbi, nº 4.500. É preciso agendar a visita pelo telefone: 0/xx/11/3645-3264.