Guia dos pássaros que voltaram ao Pinheiros

O Estado de S. Paulo - 12/5/2002

dom, 12/05/2002 - 12h06 | Do Portal do Governo

Alimento atrai aves e especialista acredita que esse cenário pode se estender pela cidade

Os pássaros voltam ao Rio Pinheiros, depois que as margens foram rearborizadas pelo Projeto Pomar – iniciativa do Jornal da Tarde com apoio da Prefeitura, Estado e empresas privadas. Mas um dos maiores especialistas do País em aves, Johan Dalgas Frisch, acredita que esse cenário pode se estender por toda São Paulo.

Um estudo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente identificou 31 espécies de aves nas margens do Pinheiros. Os biólogos acreditam que tenham sido atraídas pelo alimento. Autor de um livro que serve como guia, Frisch prepara uma segunda edição. Aves Brasileiras 2 terá uma lista de cem árvores que podem ser plantadas para atrair pássaros.

Frisch ainda tem receitas simples: mesmo em andares altos de prédios é possível atrair periquitos, bem-te-vis e sabiás para a janela. Arroz cozido chama bem-te-vi ao 20.º andar para comer. ‘Se puser banana e mamão, vem sanhaço azul e verde e sabiá do campo.’

Nas praças, ruas, quintais e jardins também se pode atrair as aves. Mas para tê-las mais freqüentemente, o melhor é providenciar um pomar. O saí-andorinha vem duas vezes por ano a São Paulo apenas para se alimentar das magnólias amarelas. ‘Se tiver um coqueiro, surgem periquitos maitacas.’

Ele acredita que as pessoas responderiam bem ao apelo. ‘Em 1964, fizemos uma campanha no rádio pedindo que as donas de casa plantassem árvores que atraíssem os pássaros. Foi um sucesso. Hoje, São Paulo é a cidade que mais tem sabiás, sanhaços e bem-te-vis no Brasil.’

Mas a situação anda difícil para várias espécies. Andorinhas-azuis-de-peito-branco e pardais têm dificuldade para achar onde morar. Fazem seus ninhos nas cumeeiras, mas cada vez a cidade tem mais prédios e lajes e menos telhados. Outros têm de improvisar para não partir. O tico-tico costuma arrematar ninhos com fios de rabo de cavalo. Na cidade, hoje, usa fio-dental ou linha.

Com menos praças cimentadas e mais espaços com as árvores frutíferas certas, a população e as autoridades podem colaborar. ‘Amoreira, jabuticabeira, mamoeiro e abacateiro fazem as aves chegar’, diz Frisch. Dessa forma, toda a cidade seria um pomar com cores e o som do canto dos pássaros.

Jobson Lemos