Guarás voltam aos mangues do litoral sul

O Estado de S. Paulo - Quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004

qua, 04/02/2004 - 9h56 | Do Portal do Governo

Retorno de aves ameaçadas de extinção é indicador de saúde ambiental

MÁRCIA COLLA, Especial para o Estado

REGISTRO – Incluídos na lista dos animais ameaçados de extinção, os guarás, aves marinhas vermelhas, estão de volta aos manguezais do complexo de Iguape e Ilha Comprida, no litoral sul paulista, de onde estavam desaparecidos havia mais de dez anos. Com exceção de Cubatão, onde vivem perto de 600 aves, não havia registro de guarás no Sul e Sudeste. Para monitorar a espécie, pesquisadores do Ibama e da Fundação Florestal iniciaram, no dia 16, o trabalho inédito de anilhamento (identificação) dos filhotes.

Há dois anos moradores de Iguape e Ilha Comprida voltaram a avistar os guarás. No início deste ano, a descoberta de áreas com ninhos comprovou o retorno das aves. Os pesquisadores anilharam 15 filhotes no mês passado, sob o olhar atento de 40 adultos que sobrevoavam o manguezal. ‘Já estávamos felizes com os primeiros oito guarás adultos e dois ninhos que encontramos no começo do mês. Porém, eles estão repovoando os manguezais em número bem superior ao que imaginávamos’, disse a oceanógrafa Danielle Paludo, do Ibama.

Os ninhos ficam nas copas das árvores do mangue, ao lado dos de outras aves marinhas, como garças brancas e socós. O filhote de guará é cinza escuro. A coloração vermelha é adquirida somente a partir dos três anos de vida.

Adultos, os guarás chegam a pesar 800 gramas e a medir até 61 centímetros.

Segundo a oceanógrafa, o anilhamento representa o início de um trabalho amplo que inclui o mapeamento dos ninhos, o acompanhamento do crescimento das aves, a análise dos riscos a que estão sujeitas e a evolução da espécie na região. Paralelamente às pesquisas, Danielle anunciou a realização de campanhas de conscientização para a proteção da espécie.

A presença da ave é indicadora da saúde ambiental dos mangues. O biólogo Fausto Pires de Campos, do Centro de Estudos de Manejo de Animais Silvestres da Fundação Florestal, que acompanhou o anilhamento, também comemorou o fato de os ninhos encontrados estarem localizados em manguezais novos, com menos de 20 anos de formação.

‘O retorno da espécie indica que terminaram ou foram reduzidos os riscos que a levaram à extinção, como a coleta de ovos e a caça’, disse a oceanógrafa do Ibama. Especialistas creditam a redução da população dos guarás na região à coleta de ovos e à domesticação de filhotes praticados por comunidades caiçaras.