Governador concentra obras na capital

Valor Econômico - Segunda-feira, 9 de abril de 2007

seg, 09/04/2007 - 12h55 | Do Portal do Governo

Do Valor Econômico

Pelo menos R$ 7 bilhões do pacote de R$ 9,2 bilhões de investimentos pretendido pelo governo de São Paulo são destinados para a capital e a região metropolitana do Estado. É mais um sinal de que o governador José Serra (PSDB) mantém a influência na capital paulista, pouco mais de um ano depois de renunciar à Prefeitura de São Paulo: as principais obras da cidade são feitas pelo governo estadual ou em parcerias entre Estado e município.

Do pacote de investimentos, o plano do Estado é captar R$ 6,7 bilhões em empréstimos com Banco Mundial, BID, JBIC (banco de fomento do governo do Japão) e BNDES. Os restantes R$ 2,5 bilhões seriam bancados com recursos próprios. As principais obras previstas são viárias, de grande visibilidade, atingindo grande número de usuários.

A área de transporte é claramente prioritária. “São Paulo tem um grande gargalo quando passa pela região metropolitana. Na área social, o problema é mais de gestão. Quando se olha educação e saúde em São Paulo, no fundo os grandes investimentos já foram realizados”, afirma o secretário de Economia e Planejamento, Francisco Vidal Luna.

Nos planos do governador, a linha dois do metrô será ampliada com mais três estações, na zona leste da capital. As linhas C e F da CPTM também ganharão mais estações e 57 trens serão renovados ou reformados. A compra deste equipamento será o investimento de maior valor pretendido pelo governo estadual: pretende-se gastar R$ 3,3 bilhões. Negociações estão em curso com o Banco Mundial e o BID.

O governo paulista também está negociando um financiamento adicional de R$ 1,3 bilhão para a linha 4 do metrô- a obra onde houve em janeiro o desabamento de um canteiro de obras em Pinheiros, matando sete pessoas- R$ 1,9 bilhão para a linha 2 , R$ 219 milhões para o projeto executivo da linha 5 e R$ 250 milhões para a linha C da CPTM. Para a linha 2, conta com um aporte do BNDES. O BID e o Banco Mundial dividiriam os financiamentos das linhas 4 e 5.

Fora do âmbito da capital e grande São Paulo, a maior empreitada é a recuperação de estradas vicinais , onde se estuda investir R$ 1,2 bilhão, a ser obtido com o BNDES e o Banco Mundial; um programa de recuperação de microbacias e matas ciliares , com gastos estimados em R$ 280 milhões; o programa Reágua, de qualidade da água, avaliado em R$ 280 milhões e a recuperação de presídios, estimada em R$ 380 milhões.

Algumas obras prioritárias de Serra como governador tiveram início em sua gestão municipal. São vários os exemplos de ação do governo estadual no município. A ampliação da avenida Jacu Pêssego, uma via expressa que liga a Zona Leste com as principais rotas de saída da cidade está prevista para ser entregue em meados do ano que vem e será a uma “antecipação” do trecho leste do Rodoanel. A recuperação das Marginais dos rios Pinheiros e Tietê e a remodelação da avenida dos Bandeirantes são outro caso.

Um corredor exclusivo de caminhões nesta via, que liga as saídas para o litoral à zona Sul, ficará em R$ 60 milhões. A avenida Roberto Marinho, paralela à Bandeirantes, também será remodelada. A ampliação de seis quilômetros da pista e a remoção de oito mil famílias em favelas vizinhas à obra representará um custo de R$ 1 bilhão, em parceria com o município.

A forte influência de Serra no comando municipal faz com que oposicionistas ironicamente o apelidem de “prego”, o prefeito-governador, classificando o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que o sucedeu, como um simples agente executivo da vontade do antecessor.

Além de ampliar o alcance de projetos iniciados na capital, Serra também não deixou de acompanhar de perto as ações de Gilberto Kassab. Antes de assumir o governo estadual, Serra reuniu-se com subprefeitos da capital sem a presença de Kassab, que estava em luto pelo falecimento de sua mãe, e discutiu planos para a prefeitura.

Já no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Serra escolheu como líder do governo na Assembléia o deputado Barros Munhoz, ex-subprefeito de Santo Amaro quando Serra era prefeito. No governo municipal continuaram dois braços direitos de Serra, o secretário de Esportes, Walter Feldman, e o secretário de Subprefeituras, Andrea Matarazzo.

O prefeito demonstra não se incomodar com a situação. Segundo um interlocutor de ambos, é uma relação de conveniência para o prefeito e o governador. O volume de obras na capital pode impulsionar Kassab como candidato à reeleição , caso o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) não concorra. E para Serra, um fracasso administrativo de seu sucessor poderia explodir no seu colo, já que o atual governador renunciou ao cargo apenas 14 meses depois de empossado.