Genoma do Boi quer revolucionar a pecuária

Folha de S. Paulo - Painel Rural - 3/6/2003

ter, 03/06/2003 - 9h47 | Do Portal do Governo

A pecuária brasileira acaba de ingressar na era genômica. No início deste mês, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Central Bela Vista Genética Bovina anunciaram o início do projeto Genoma Funcional do Boi, que será desenvolvido pelos pesquisadores do Programa AEG (Genomas Agronômicos e Ambientais).

O foco do projeto está na busca de mecanismos para aumentar a produção bovina, melhorar a qualidade da carne, aumentar a eficiência reprodutiva dos animais e tornar o rebanho brasileiro mais resistente a doenças e parasitas.

Com o maior rebanho comercial do mundo, formado basicamente pela raça nelore, o Brasil já ocupa o terceiro lugar no ranking dos maiores exportadores de carne bovina. Em 2002, as exportações brasileiras de carne bovina renderam ao país US$ 1,086 bilhão. Criado a pasto, o boi verde brasileiro ampliou o seu mercado lá fora, com fama de alimento natural e saudável. Mas o país ainda está longe de produzir o melhor bife do mundo, como o suculento bife de chorizo argentino ou o strip loin americano, cortes que provêm de raças européias como a aberdeen angus e a hereford.

Embora rústico e totalmente adaptado ao clima tropical, o nelore tem outros tipos de limitações, como o fato de não ser tão precoce sexualmente quanto as raças européias. Enquanto uma fêmea angus, por exemplo, com apenas dois anos pode parir a primeira cria, a vaca nelore leva entre 2,5 anos e três anos. Eliminar essas desvantagens da raça é uma das metas do projeto Genoma Funcional do Boi, segundo o professor Luiz Lehmann Coutinho, professor do Departamento de Zootecnia da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP.

‘O mais interessante é que a pesquisa genômica abre a possibilidade de identificar genes ligados tanto as limitações do nelore como também as suas vantagens. O nelore é mais resistente a parasitas, como os carrapatos, do que as raças européias. Podemos usar esta informação para selecionar animais europeus mais resistentes a parasitas ou mesmo desenvolver produtos que tornem essas raças resistentes’, afirma Coutinho.

Para o fazendeiro e empresário Jovelino Mineiro, proprietário da Central Bela Vista, os conhecimentos gerados pelo genoma do boi vão possibilitar o desenvolvimento de novas tecnologias aplicáveis à pecuária, com grandes perspectivas comerciais. Testes genéticos para identificar animais superiores, novos medicamentos e vacinas são apenas alguns dos produtos que podem vir a ser desenvolvidos a partir dos resultados do projeto.

Segundo Mineiro, uma das principais características do projeto é criar um ambiente propício para a transformação do conhecimento científico em novos negócios. Para isso, a parceria firmada deverá buscar outras associações com a iniciativa privada para desenvolver projetos com aplicações específicas. A expectativa é também gerar novos empregos, além de aumentar a competitividade da carne brasileira no mercado internacional.