Furp vai modernizar medicamentos

Gazeta Mercantil - São Paulo - Segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

seg, 20/12/2004 - 9h08 | Do Portal do Governo

Fundação assina convênio com a Unesp para agregar novas tecnologias ao seu portfólio

Iolanda Nascimento

A Fundação para o Remédio Popular (Furp), o maior laboratório público brasileiro e vinculado ao governo do Estado de São Paulo, e a Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ (Unesp) formalizam amanhã, no campus de Araraquara (SP), um acordo de parceria que marca a entrada da fundação na área de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. ‘Estamos deixando de ser apenas copiadores de produtos acabados. Este é um passo importante até para concretizarmos o objetivo de colaborar com a descoberta de novas moléculas’, disse o assessor técnico da fundação e também médico sanitarista, Tuyoshi Ninomya.

O acordo de cooperação envolve diversas atividades que serão realizadas ao longo dos anos, mas a mais importante, inicialmente, é o trabalho que a Unesp desenvolverá para incorporar tecnologia ao portfólio da Furp com o objetivo de modernizar e dar maior eficiência aos produtos. O laboratório tem uma linha com cerca de 90 medicamentos e os pesquisadores da Unesp, em uma primeira etapa, irão levantar quais são os produtos que podem absorver técnicas mais avançadas nos processos de produção. O trabalho deverá durar entre seis meses e um ano e envolverá investimento de aproximadamente R$ 10 mil. ‘O valor refere-se apenas a algumas despesas, como os custos de deslocamentos da equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, que não irá cobrar pela mão-de-obra’, disse.

Ninomya explicou que diversos medicamentos podem ficar mais eficientes, principalmente, no controle de liberação das substâncias ativas no organismo. Alguns remédios, por exemplo, devem ser ministrados atualmente várias vezes ao dia para se obter o efeito terapêutico necessário. Com maior tecnologia agregada, a mesma eficácia no uso do remédio pode ser obtida com a diminuição das dosagens diárias – para até uma vez ao dia, já que as técnicas modernas liberam as substâncias lentamente no organismo.

As drogas aprimoradas são extremamente importantes para o sucesso dos tratamentos, pois muitos pacientes desistem de tomar os remédios porque têm de fazê-lo diversas vezes por dia, observou Ninomya. ‘Pessoas com problemas cardíacos ou portadores do vírus HIV, por exemplo, têm de tomar vários e diferentes remédios por dia e a modernização facilitará a vida desses pacientes, além de manter a adesão à terapia.’ Na outra ponta, o controle de liberação das drogas também poderá ser mais rápido para aquelas patalogias que pedem que o mecanismo de ação seja mais veloz.

‘A Unesp tem um núcleo que pesquisa tecnologia de controle de liberação de princípios ativos e a segunda etapa da parceria envolverá a aplicação desses recursos, entre outros, nos produtos que estão aptos a incorporá-los’, disse o assessor técnico, que afirmou também que essa fase envolverá investimentos mais significativos, ainda não calculados, pois contabilizará a utilização de equipamentos e da capacidade global da Unesp nesta área. As drogas modificadas, além de terem um valor agregado maior, poderão ser patenteadas.

Além desse acordo, a Unesp irá dar suporte técnico e científico no desenvolvimento de estudos de biodisponibilidade, bioequivalência e farmacotécnicos e na área de controle de qualidade, entre outros, para a Furp. Essas operações envolvem investimentos ainda não definidos e serão absorvidas pela fundação especialmente quando estiver em funcionamento a sua segunda unidade de produção – que está sendo construída em Américo Brasiliense, no interior de São Paulo, com a primeira etapa de fabricação já prevista para ser iniciada no próximo ano.

A Furp está em fase de homologação também de acordos de transferência de tecnologia com empresas privadas, processo licitado recentemente, que envolve investimentos de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões. A fundação não revela mais detalhes, mas o negócio envolve a aquisição de 12 produtos prontos que atendem a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS), em áreas como oncologia e hipertensão, por exemplo, mas que ainda não são produzidos pela Furp.

Processo de engenharia reversa

Ninomya explicou que as parcerias são necessárias para agilizar a disponibilidade dessas drogas para o SUS, já que o laboratório está ocupando totalmente a sua capacidade com os testes de bioequivalência e biodisponibilidade exigidos para os medicamentos similares, a partir deste ano, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). ‘Para fabricarmos um medicamento, levamos em média mais de dois anos em um processo denominado engenharia reversa, ou seja, desmanchamos um produto e conhecemos seus componentes para somente depois começarmos a produzi-lo. É isso que estamos comprando pronto para ser apenas adequado ao processo produtivo.’