Furp faz parcerias para desenvolver novas drogas

Gazeta Mercantil - São Paulo - Segunda-feira, 22 de novembro de 2004

ter, 23/11/2004 - 10h30 | Do Portal do Governo

Iolanda Nascimento

O maior laboratório público do Brasil está firmando os acordos neste mês para ingressar na área de pesquisas de inovação. A Fundação para o Remédio Popular (Furp), maior laboratório público brasileiro e vinculado ao governo do Estado de São Paulo, deve anunciar até o final deste mês que entrará na área de pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas, por meio de parcerias com instituições de pesquisa, entre outras entidades. Os acordos já estão sendo firmados, disse o superintendente da Furp, Edson Massamori Nakazone, sem adiantar mais detalhes das associações. ‘Vamos criar um novo paradigma e deixar de ser apenas copiadores de produtos’, afirmou.

O superintendente calcula que as pesquisas devam dar os primeiros resultados em cerca de quatro anos. Cada estudo de substância poderá absorver investimento em torno de R$ 50 milhões – bem abaixo dos US$ 800 milhões que os grandes laboratórios afirmam investir em uma nova substância. Conforme Nakazone, os cálculos ainda não foram levantados, mas o laboratório deverá buscar os recursos em linhas de financiamento à pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde e também em linhas do Profarma (programa do governo federal para o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional criado este ano) disponíveis no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Nakazone disse que as pesquisas deverão ser concentradas em drogas que atendam as patologias de ‘interesse público’, que não são prioridades para os laboratórios privados pelo baixo potencial comercial, como malária, hanseníase, tuberculose, entre outras de ampla cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS). ‘São doenças típicas de países pobres, onde as pessoas não têm condições financeiras de comprar remédios, o que afasta o investimento das indústrias em substâncias novas ou que acompanhem as mutações dessas doenças.’

De acordo com o assessor técnico da Furp, Tuyoshi Ninomya, os laboratórios oficiais devem ter um papel fundamental no desenvolvimento de drogas mais modernas para o tratamento de doenças endêmicas. ‘Iniciativas como as da Furp são imprescindíveis também para que o País seja cada vez menos dependente de medicamentos básicos.’

Apesar de ter no portfólio uma droga de sua autoria, o imunossupressor azatioprina criado na década de 1980, a Furp é tradicional fabricante de medicamentos já conhecidos no mercado – cujas patentes expiraram ou foram quebradas – e novas formulações. São produtos que atendem basicamente ao SUS e aos governos que distribuem gratuitamente os remédios. Por isso, deverá fechar parcerias principalmente na área de pesquisa. Nakazone não revelou, mas ela poderá seguir o modelo de outros laboratórios públicos que nos últimos anos ingressaram nesse campo. Em associação com instituições, universidades e até empresas privadas, eles participam, especialmente, pesquisando o desenvolvimento das melhores formulações para as novas moléculas.

Segundo Nakazone, será fundamental para as parcerias a nova unidade de produção da Furp, que está sendo construída em Américo Brasiliense, distante 280 quilômetros da capital paulista, com investimento de cerca de R$ 115 milhões. Com mais essa fábrica, ela se tornará um dos maiores fabricantes de medicamentos do País, incluindo as empresas privadas. O governo paulista prevê o começo das operações no início de 2006, com duas linhas de produção: uma com capacidade para a fabricação 100 milhões de unidades de sólidos por mês/turno; e outra com capacidade para produzir 1,8 milhão de unidades de produtos injetáveis por mês/turno.

A Furp 2, como é denominada a nova unidade, tem planejadas quatro expansões futuras, além de uma linha isolada para a produção de medicamentos especiais – hormonais e oncológicos, como exemplo. A primeira fábrica da Furp, em Guarulhos (SP), foi inaugurada em 1974 e opera no limite da capacidade, mas vem recebendo constantes investimentos em modernização e expansão. Atualmente, está em curso a ampliação da linha de medicamentos sólidos, com custo total em torno de R$ 7 milhões, que deverá ser finalizada em janeiro de 2005. Com a ampliação, aumenta de 145 milhões de unidades por mês para mais de 200 milhões por mês a capacidade de produção do laboratório, disse o gerente geral da divisão industrial da Furp, Luís Henrique Bonacella.

Além disso, a Furp pretende internalizar a produção terceirizada – mais de 30 milhões de unidades farmacêuticas por mês – e projeta novas expansões, com processo de licitação já previsto para o começo de 2005. Bonacella estima que, a partir da licitação, a expansão seja concluída em 15 meses. O investimento, que elevará em 50% a capacidade de produção, está orçado em R$ 18,7 milhões entre equipamentos e obras. O prédio, com custo de R$ 6,5 milhões – R$ 5 milhões provenientes do Ministério da Saúde – já foi construído.

Em 2003, a Furp bateu recorde de faturamento. Foram R$ 193,8 milhões antes R$ 151,4 milhões de 2002. A produção no ano passado foi de 2 bilhões de unidades farmacêuticas. Anualmente, o laboratório investe cerca de 2% da receita em pesquisas. A previsão para 2004 é de receita e produção semelhantes as do ano passado. O gerente geral da divisão administrativa e financeira da Furp, Almiro Antonio Franchi, disse que a manutenção dos números é conseqüência, principalmente, da saída do município de São Paulo, em meados deste ano, do Programa Dose Certa, de distribuição gratuita de 40 tipos de medicamentos, financiado pelos governos estadual e federal. A capital era a responsável por 25% da demanda do programa, de 1,3 bilhão de unidades em 2003 e valor de R$ 101 milhões.

A Furp até este ano distribuía seus produtos somente para a esfera pública. No entanto, em setembro, a Secretaria de Estado da Saúde instalou dez farmácias em estações do Metrô paulistano e em apenas um mês de funcionamento, entre 13 de setembro e 13 de outubro, foram atendidas 36,8 mil pessoas, média de 1,6 mil por dia, e distribuídas gratuitamente 2,3 milhões de unidades farmacêuticas nesses postos. São 40 tipos de medicamentos que cobrem 80% da atenção básica. ‘Essa evolução do Programa Dose Certa é um sucesso e reforça a política de ampliar o acesso da população aos medicamentos, implementada pelo Sistema Único de Saúde’, afirmou o diretor comercial da Furp, Rubens Pimentel Scaff Junior.