Fundação Zerbini terá novo presidente a partir de hoje

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 4 de março de 2008

ter, 04/03/2008 - 14h08 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Diretor-executivo do Instituto do Coração (Incor) há cinco anos e diretor-presidente da Fundação Zerbini desde março de 2007, o infectologista David Uip afastou-se oficialmente dos cargos ontem. Hoje, o médico parasitologista Erney Felicio Plessmann de Camargo assume a presidência da fundação.

Camargo, de 72 anos, é ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ocupou também os cargos de pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e de diretor do Instituto Butantã. O novo diretor do Incor ainda não foi definido. O nome sairá de uma lista tríplice encaminhada para o conselho deliberativo e para a superintendência do Hospital das Clínicas (HC).

Uip deixa o Incor e a Zerbini em situação financeira mais equilibrada depois da crise que atingiu o hospital em 2005. Após a construção do Incor no Distrito Federal, a instituição passou a acumular dívidas crescentes com bancos e fornecedores. Em março de 2007, diante do risco de o Incor ter suas atividades comprometidas, o governo paulista aceitou assumir parte da dívida que a fundação tem com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A reestruturação passou também pelo saneamento das contas da unidade em Brasília. De julho a dezembro de 2007, o hospital praticamente zerou a série de prejuízos mensais que vinha apresentando no primeiro semestre do ano, cujo valor acumulado era de cerca de R$ 11 milhões. No final de março, a Zerbini deve se retirar definitivamente da gestão do Incor no Distrito Federal.

Para o médico, a reestruturação da gestão e o fortalecimento dos órgãos colegiados da instituição foram as principais conquistas. ‘O principal avanço não são apenas os resultados financeiros, mas a forma como as coisas são conduzidas. Por exemplo, o conselho curador do Incor mudou: eram três pessoas, agora são sete’, diz Uip.

Antes de sair, no entanto, o médico instaurou comissões preliminares para analisar as administrações no Incor e na Zerbini em sua gestão e nas gestões anteriores. ‘Quero que minha gestão e as outras sejam avaliadas para deixar as coisas em total transparência’, afirma o médico.

ADIAMENTO

Inicialmente, o infectologista anunciou que se afastaria do Incor no final de 2007. Isso deveria acontecer no dia 26 de dezembro, mas a revelação de que estava sendo vítima de extorsão por ex-funcionários do Incor fez com que adiasse sua saída. ‘Não saí naquela data pois os conselhos entenderam, assim como eu, que poderia parecer que estava fugindo de alguma coisa, e não estou fugindo de nada’, diz.

As ameaças foram reveladas após o infectologista apontar uma série de irregularidades no hospital. Uip encaminhou representações à polícia e ao Ministério Público Estadual sobre supostas irregularidades em contratos de mais de R$ 60 milhões feitos pela administração anterior da fundação responsável pela administração do Incor, a Zerbini. Os acertos não teriam passado pelo aval do conselho curador.

Em dezembro, Andrea Ninessi Fett Rossi, de 32 anos, e Enésio Rossi Júnior, de 42 anos, foram presos acusados de extorsão. Andrea é ex-funcionária do Incor. O médico teve seus dados bancários roubados pelos acusados, que fizeram compras em seu nome e até transferências de dinheiro de suas contas.

O casal chegou a comprar na internet uma TV de plasma e aparelhos eletrônicos em nome do médico. Também exigiram R$ 50 mil para deixá-lo em paz. Uip conta que as ameaças a sua família eram constantes e recebia e-mails dizendo que sua filha seria morta.

Do Incor , ele cobra a continuidade das investigações. ‘Tudo o que me ocorreu (como diretor) tem de ser apurado não só pela polícia, mas também pela instituição, pois envolve ex-funcionários e, talvez, outras pessoas do instituto’, diz. ‘A obrigação do Incor é dar transparência a esses processos.’

CRISE

Uip se afasta da direção da Fundação Zerbini e do Incor em meio a uma crise que parece ter se abatido sobre o HC, desde o incêndio da noite de Natal. Para ele, os incidentes são resultado de sabotagem, problemas que também aconteceram no Incor.

Segundo ele, o incêndio no Prédio dos Ambulatórios do HC poderia ter acontecido também no Incor. Ele cita casos de furto de materiais e sabotagem como indícios. ‘Não aconteceu a mesma coisa no Incor por milagre’, diz.

Apesar de deixar a direção do Incor e da Fundação Zerbini, o médico não irá se afastar do hospital. Deve dividir seu tempo entre o instituto e a Faculdade de Medicina do ABC. ‘Tenho uma vida acadêmica a retomar. Por mais que você se esforce, não tem como fazer todas as coisas ao mesmo tempo’, diz.