Fundação Casa quer colocar internos no mercado de trabalho

Diário da Região/Osasco

seg, 22/06/2009 - 8h32 | Do Portal do Governo

Novo sistema tem foco na vida pós-internação e inclui cursos profissionalizantes e menores já sonham com suas futuras profissões

A Fundação Casa (Ex-Febem) vem lutando para sepultar situações como superlotação e rebeliões, trabalho iniciado há cerca de 3 anos, quando grandes complexos, que abrigavam até 1,8 mil internos, começaram a ser desativados, dando lugar a espaços menores.

Nesse processo, a cidade de Osasco foi selecionada para receber duas unidades, com capacidade para 56 menores cada, atendendo toda a região Oeste. Cerca de 10 meses após a inauguração, a Fundação conseguiu acabar com esses “fantasmas” e volta seu foco para uma missão talvez mais difícil: a de preparar os jovens para a vida “pós-internação”, incluindo chances reais de inclusão no mercado de trabalho.

O processo de ressocialização inclui ensino regular e profissionalizante, com aulas de desenho, panificação e confeitaria, informática, administração e telemarketing, além de oficinas de teatro, música e esportes.

Fazem parte também, desse “resgate”, o olhar personalizado para cada interno. “Começamos a não mais enxergar um grupo de 56 adolescentes, mas cada menino na sua especificidade”, explica a diretora da Casa Osasco, Gilsélia Lopes Alvim, durante visita da reportagem do jornal Diário da Região ao local, na última terça-feira. Segundo ela, esse processo passa ainda pelo contato com as famílias dos menores, para que possam recebê-los e apoiá-los.

Parcerias

A preparação para o mercado também está presente no modelo de gestão compartilhada adotado nas unidades e que, em Osasco, conta com a participação da ONG Gaapis, que é a responsável pela contratação dos profissionais que desenvolvem as atividades paralelas junto aos jovens. De acordo com Moisés Camilo de Lima, fundador da entidade e gerente do projeto, passado o desafio de encontrar pessoas que superassem os preconceitos e aceitassem trabalhar no setor, as ações estão deslanchando.

“Temos alcançado excelentes resultados. Obviamente nem tudo é um mar de rosas, mas grande maioria está envolvida nas atividades e apresentando mudança de comportamento significativa”, explica.

Já a chance dos menores encontrarem “seu lugar” no mercado, após a internação, pode ser dada em parceria com a prefeitura. Na terça-feira, o prefeito Emidio de Souza visitou as unidades e fez sugestões de parceria. Dentre elas, está a criação de um banco de dados, exclusivo sobre os jovens internos de Osasco, para que a prefeitura faça um trabalho de assistência com as famílias. Além disso, os menores poderão ser incluídos nos programas de recolocação profissional “Queremos que objetivos de ressocialização sejam plenamente atendidos. Com essa colaboração, aqueles que forem formados profissionalmente na Fundação podem ir ao mercado de trabalho de maneira mais segura e a prefeitura pode fazer um acompanhamento ao longo dos primeiros meses após a saída”, completou.

Futuro

Essa preparação também começa a plantar “sementes” entre os internos. É o caso de Tiago* (nome fictício), quarto menor a chegar à unidade, em setembro, vindo da Febem Brás. Ele faz questão de apresentar seu quarto à reportagem, com a cama bem arrumada e o cobertor dobrado, e falou sobre as diferenças. “Lá, tinha noite que nem dormia, de medo. Aqui, tudo é diferente”.

Quando deixar a unidade, já sabe que quer ter uma profissão. O que falta é definir a carreira. Os elogios recebidos nas aulas de panificação o fazem pender para a culinária. Já em conversar com agentes, viu “ressurgir” a idéia de ser enfermeiro, um sonho de infância.

Tudo isso também está escrito na monografia que prepara, como parte do projeto educacional. “Ela vai servir para, quando sairmos daqui, mostrarmos aos professores, que vão avaliar o que já sabemos e a partir de onde poderemos aprender mais”, explica.

Mas sua principal meta, em qualquer uma das carreiras, será cuidar da família. A mãe e a irmã fazem visitas regulares. Já os demais parentes, poderão, neste final de semana, vê-lo pela primeira vez. E a expectativa é grande. “Agora vejo neles o apoio, o equilíbrio”, completa.