Bárbara Souza
A Catedral da Sé está vazia. Nela, apenas anjos e Cristo crucificado brilham sob a luz que invade o salão pelos vitrais. Bancos e altares igualmente solitários remetem ao silêncio. A paz da igreja – uma das oito maiores catedrais do mundo – nos momentos em que não está tomada pelos fiéis é o que o fotógrafo Marcio Sallowicz buscou transmitir em suas imagens.
Foram dois meses de trabalho diluídos em mais de 2 mil fotografias – inspiração para os textos do poeta Fernando Piccinini, que acompanham o livro Catedral da Sé, a ser lançado hoje, às 18h30, na Casa das Rosas. A idéia da publicação, dizem os autores, é que o leitor sinta a catedral nas mãos – a impressão da capa é feita com jato de areia e resina. ‘É para dar a sensação de estar tocando as paredes da Sé’, explica Sallowicz.
Publicada pela Imprensa Oficial do Estado e Mitra Arquidiocesana de São Paulo, a obra celebra o cinqüentenário da catedral e é considerada pelos autores mais um presente para os 450 anos de São Paulo. ‘Apesar de não ter sido publicado no dia do aniversário da cidade, o presente é válido, porque ainda estamos comemorando o aniversário de São Paulo’, diz Piccinini. O livro está à venda em livrarias e custa R$ 100,00.
Descoberta
O trabalho, conta Sallowicz, começou com um relatório feito para o Banco Nossa Caixa. Surpreso com o próprio trabalho, o fotógrafo diz que saiu modificado dessa experiência. ‘Conheço a Sé desde criança, mas achava estranho ter uma catedral gótica em pleno século 20. Quando redescobri a igreja, me apaixonei e acho que as pessoas deveriam conhecê-la melhor.’
O fotógrafo evitou captar pessoas nas imagens e concentrou-se na arquitetura. Mas acabou descobrindo a relação do paulistano com a catedral. ‘Eles têm uma fé enorme. Isso foi uma revelação.’
Os textos estão fora do enquadramento das fotos porque, segundo Piccinini, a intenção era não atrapalhar a visualização das imagens. E seguem a lógica apresentada nas 144 páginas da obra, visitam a memória do autor e dão ao leitor a idéia de pluralidade da Sé.
Como no prefácio feito pelo presidente da Imprensa Oficial, Hubert Alquéres, as frases relembram a Sé das manifestações e marco histórico da cidade. ‘Matriz de fé, converteu-se também em templo de justiça, sempre próximo do coração do povo. Deu guarida aos perseguidos e fincou-se, entre os anos 70 e 80 do século passado, como principal palanque de movimentos libertários e sociais… Como um ímã, ela atrai, por vezes hipnotiza.’