Força-tarefa vai tentar ‘aprimorar’ o café

Correio Popular - Campinas - Segunda-feira, 26 de abril de 2004

seg, 26/04/2004 - 9h21 | Do Portal do Governo

Pesquisadores querem identificar os genes responsáveis pela resistência, maturação e qualidade; genona da planta começou no IAC

Maria Teresa Costa, da Agência Anhangüera

Os pesquisadores de São Paulo começarão a ser chamados, a partir de maio, para integrar uma força-tarefa para descobrir quais são os genes do café responsáveis pelas principais características de interesse econômico da planta. A busca ficará especialmente nos genes que conferem características de resistência da planta, que regulam o tempo de maturação do fruto e que dão qualidade à bebida para poder melhorá-la.

O trabalho deve ter início em agosto, conforme expectativa do pesquisador Carlos Colom-bo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que coordenou a rede de laboratórios paulistas responsável pelo seqüenciamento genético do café. Foram dois anos de investigação encerrada na semana passada.

Eles conseguiram identificar como a natureza escreveu a história dessa planta, letra por letra. Agora tratarão de interferir nessa história, descobrindo quais são as letras (os genes) que conferem características importantes da espécie.

Os pesquisadores seqüenciaram 240 mil trechos de DNA em dois anos de trabalho. O IAC coordena o Projeto Genoma do Café em São Paulo, resultado de uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Consórcio de Pesquisa Cafeeira do Brasil, que reúne uma rede de laboratórios no projeto. O seqüenciamento envolveu 20 laboratórios paulistas e o Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).

Foram investidos R$ 1,8 milhão no projeto para seqüenciar o café arábica tipo Novo Mundo. Esse café foi desenvolvido no IAC e hoje representa 70% do café plantado no Brasil. Metade da seqüência foi trabalhada por uma rede de 20 laboratórios paulistas coordenada pelo pesquisador Carlos Colombo. A outra metade, pelo Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).

Os laboratórios paulistas analisaram 160 mil seqüências e encontraram 25 mil genes potenciais. Com os laboratórios da Embrapa, o número de genes, estima-se, deverá chegar entre 30 mil e 35 mil.

Agora começará a parte mais difícil do projeto, que é descobrir o que cada um dos 30 mil genes da planta faz, ou seja, identificar os genes que conferem as características essenciais à planta, para que, no futuro, por meio de interferência nesses genes, seja possível desenvolver um café ideal, resistente à pragas, de maturação rápida e boa bebida, informa Colombo.

O café é um dos principais produtos da agricultura paulista, ao lado da laranja e da cana-de-açúcar. É o quinto produto mais exportado pelo Brasil. A área cultivada no país é de cerca de 2,7 milhões de hectares.

O seqüenciamento genético foi feito utilizando material genético de tecidos de flor, fruto, caule, folha e raiz, com uma técnica chamada de Etiquetas de Seqüências Expressas (EST), que vem da tradução de Expressed Sequence Tags.

Essa tecnologia permite o seqüenciamento genético de plantas de forma rápida e incompleta, e identifica as porções dos genes que codificam proteínas, os chamados genes funcionais.

Dos 20 laboratórios paulistas que participaram do Projeto Genoma do Café estão laboratórios da Unicamp, Unesp, USP e dois do IAC (o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais e o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Citros).

O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne 40 instituições de 12 estados brasileiros, é financiado pelo Conselho de Desenvolvimento da Política Cafeeira (CDPC), que congrega representantes do setor e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento.

Setor gera 6 milhões de empregos

O café representa hoje 4% das exportações brasileira e gera uma receita anual entre US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. O setor de exportação, juntamente com o setor industrial, propicia cerca de 6 milhões de empregos indiretos. Melhorar a produtividade e a qualidade do principal produto agrícola mundial é essencial para o mercado brasileiro.

A produção cafeeira no Brasil é representada por aproximadamente 320 mil propriedades, que na sua maioria são de pequeno porte (até 10 hectares), distribuindo-se entre 13 estados brasileiros. São gerados pela cafeicultura, 3 milhões de empregos diretos e uma produção bruta de US$ 1,5 bilhões. O setor industrial gera ao país cerca de US$ 17 milhões.

Descobrir quais os genes que dão as características de importância econômica ao café e interferir nelas poderá significar ganhos imensos na competitividade do mercado. Por exemplo, o ciclo de flor e fruto da planta leva em torno de seis meses. Sabendo qual o gene relacionado à maturação do fruto será possível interferir nesse gene e obter uma maturação mais rápida. Os ganhos econômicos serão grandes.

Descobrir qual o gene relacionado à resistência da planta a um patógeno será essencial para o desenvolvimento de plantas resistentes, implicando em redução de gastos, por exemplo, com inseticidas

Dos resultados obtidos com o Projeto Genoma Café depende a manutenção do Brasil no cenário mundial da cafeicultura. Eles também visam a gerar tecnologias em benefício de produtores e dos sistemas de produção associados ao grão.

Condepacc tomba Instituto

O conjunto arquitetônico e a coleção de árvores e plantas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), um dos principais símbolos do ciclo do café que prosperou na região de Campinas, foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Na semana passada, o Diário Oficial do município publicou a ratificação do processo de tombamento, que teve início em 2000 e foi concluído em dezembro de 2003.

O tombamento contemplou as construções mais antigas do complexo: os prédios D. Pedro 2º, Conselheiro Antonio Prado e Franz Wilhelm Dafert. O nome dos prédios ajuda a contar um pouco da história do instituto, fundado como Imperial Estação Agronômica de Campinas, em junho de 1887. À época, o imperador, que dá nome ao primeiro prédio a ser construído, foi convencido por Antonio Prado, então conselheiro imperial e ministro da Agricultura, a criar um local onde pudessem ser pesquisadas e realizadas melhorias no café.

“Naquela época, a cultura do café se expandia na região de Campinas. As condições da planta precisavam ser melhoradas’’, disse o diretor-geral do IAC, Cândido Ricardo Bastos. Com a criação da estação, foi trazido da Áustria o químico Franz Wilhelm Dafert, que tinha experiência no melhoramento de plantas. Entre as décadas de 30 e 40 do século passado, com a queda da cultura do café no país, o IAC começou a ampliar a pesquisa para outras espécies.