Pesquisador da USP utiliza siri para estabelecer conexões neurais virtuais
ALESSANDRO GRECO
Pim, pim, pim. Uma torneira gotejando teoricamente não tem nada a ver com neurônios, a não ser o fato de irritá-los pelo barulho ritmado. Mas para o professor Reynaldo Pinto, de 36 anos, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), o tempo entre um pingo e outro da torneira tem tudo a ver com o tempo entre um disparo e outro do neurônio, que a cada pulso transmite informação pelo cérebro. Os dois seguem um padrão repetitivo, como o que ocorre com a mastigação, a respiração e o andar.
‘Quero entender como os circuitos neurais geram esse tipo de padrão’, diz ele, que recentemente conseguiu ligar neurônios reais a um computador que simulava um neurônio, o chamado neurônio artificial.
A cobaia escolhida para o estudo foi o siri-azul, ou melhor, 14 dos 30 neurônios responsáveis pela mastigação do crustáceo, que foram ligados a um computador que emulava (imitava o comportamento de) um neurônio. Reynaldo e seu aluno de doutorado Marcelo Reyes descobriram, ao fazer o experimento, que um deles tinha função ímpar no sistema: sem ele, a mastigação não ocorria; e conseguiram fazer que o computador fizesse o papel desse neurônio ímpar. ‘Mostramos que era possível usar um neurônio artificial para restabelecer o funcionamento do sistema’, afirma Reynaldo.
A descoberta pode ter implicações no futuro. ‘Entender esse funcionamento é uma forma de um dia substituir circuitos biológicos que foram danificados, por exemplo, por um acidente, como aquele responsável por andarmos’, afirma.
O próximo passo da pesquisa é tentar substituir mais de um neurônio biológico por um artificial e fazer que o sistema continue a funcionar.
Outra linha de pesquisa mais ousada é tentar fazer que um neurônio artificial mande uma informação para o neurônio biológico e modifique o seu comportamento.
