Fins de semana na escola: lazer diminui a violência

Jornal da Tarde - Quarta-feira, 16 de junho de 2004

qua, 16/06/2004 - 9h48 | Do Portal do Governo

Números do governo do Estado mostram que as escolas que abriram suas portas à comunidade nos fins de semana reduziram em 16% o índice de ocorrências violentas em relação ao mesmo período de 2003

RENATA CAFARDO

As portas foram abertas e as invasões, os roubos, as agressões, diminuíram. Pelo menos em educação, a afirmação não soa contraditória. Números do governo do Estado mostram que o programa que abre as escolas nos fins de semana pela comunidade fez cair os índices de violência. Entre janeiro e maio de 2003 e o mesmo período de 2004, a queda geral no número de ocorrências foi de 16%.

As mais significativas reduções foram registradas nos meses de janeiro e fevereiro, período das férias escolares. Havia atividades nos fins de semana em escolas estaduais. A diminuição nos casos de violência foi de 56% e 33%, respectivamente. ‘Uma escola com pouco diálogo com a comunidade vira um símbolo de dominação. As depredações e invasões muitas vezes são motivadas por essa rejeição’, diz a educadora Silvia Colello, da Universidade de São Paulo USP .

As invasões caíram 30% durante o período estudado. Os furtos e roubos de materiais e equipamentos escolares diminuíram 16% e 28%, respectivamente. As ocorrências são registradas pelas próprias diretorias das escolas e transmitidas à Secretaria Estadual de Educação. A idéia do Escola da Família é abrir para pais, alunos e vizinhos. O lugar, antes ocioso, passa a ser aproveitado para lazer e cultura. ‘Há agora um sentimento de pertencimento dos alunos com relação à escola’, diz o secretário da Educação, Gabriel Chalita. ‘A violência diminui porque o jovem tem uma ocupação nos fins de semana.’

Em maio, segundo o governo, houve recorde de 7,5 milhões de participantes, número superior à quantidade de alunos na rede estadual (cerca de 6 milhões). Educadores brasileiros e estrangeiros defendem a proposta, mas afirmam que é preciso monitorar bem a atividade que é realizada nesses períodos. O programa começou no Estado em agosto de 2003, tem o apoio da Unesco, e dá bolsas a 25 mil universitários em troca do trabalho nas escolas.

Na mesma época, a prefeitura inaugurava – com pompa – os primeiros Centros Educacionais Unificados (CEUs), grandes complexos que permitem atividades escolares e de lazer, durante a semana e aos sábados e domingos, para toda a comunidade.

‘Agora, a gente tem com o que ocupar a cabeça’, diz Jefferson Leandro da Silva, 19 anos, que estuda na Escola Estadual Dilson Machado Funaro, no Jardim Peri, e joga futebol nos fins de semana também na escola. Segundo o diretor Hewerton Santos Chaves, o programa ajudou a diminuir o número de depredações no colégio. ‘Hoje, o relacionamento com o entorno melhorou bastante.’

Nos fins de semana, o espaço é aberto para futebol, capoeira, aulas de dança, de informática e um curso pré-vestibular. A escola também recebe os adultos do bairro, muitos deles pais de alunos, que fazem cursos profissionalizantes.

Na Escola Estadual Gilberto Freyre, em Taboão da Serra, uma professora – que não autorizou a publicação de seu nome – diz que os roubos e furtos aumentaram no último ano. ‘O programa pode funcionar na capital, mas aqui pouca gente participa das atividades.’