Fim da fila da córnea

Jornal da Tarde - Domingo, 11 de março de 2007

dom, 11/03/2007 - 11h08 | Do Portal do Governo

Do Jornal da Tarde

Há uma luz no fim da fila. E o fim dela parece estar logo ali. A espera por um transplante de córnea no Estado caiu mais da metade nos últimos dois anos e deve acabar até 2010, segundo estimativa da Secretaria Estadual de Saúde.

Em janeiro de 2005, 5.456 pessoas aguardavam por uma córnea em São Paulo. Já em janeiro deste ano, o número caiu para 1.796, o que representa uma queda de 67%. Há dois anos, o tempo de espera passava de três anos, agora mal chega aos seis meses. A estimativa da Secretaria é de que em três anos não haverá mais fila. Quem precisar de uma córnea vai poder agendar, sem esperas, e fazer a cirurgia.

O estudante Lucas do Nascimento, de 12 anos, deu muita sorte. No dia em que a cegueira começou a tomar conta de seu olho direito, os Bancos de Olhos de São Paulo já estavam estruturados o suficiente para fazê-lo recuperar a visão em pouco tempo.

No ano passado, ele parou de enxergar da noite para o dia, por causa da ceratocone, uma doença que afina e deforma a córnea. Lucas deixou de ir à escola por um ano. E começou a peregrinar por oftalmologistas. ‘Foram dias de desespero para toda a família’, disse a mãe, Kely Nascimento.

Ela colocou o nome do filho na lista de espera de transplante de córnea da Capital. Esperou seis meses e, em novembro do ano passado, Lucas recebeu uma córnea nova, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A visão ainda não está 100%, mas já permite que ele vá à escola.

Se a cegueira de Lucas tivesse começado há uns três anos, a cura certamente teria demorado bem mais. Como aconteceu com Gabriela Ximenes de Mello, de 29 anos, que também sofria com ceratocone. Ela descobriu a doença cedo, mas precisava usar lentes de acrílico para impedir o agravamento. Como não se adaptou, acabou perdendo a visão no olho esquerdo. Gabriela fez o transplante de córnea há um ano e meio, depois de esperar por três anos pela cirurgia.

Mas o que fez São Paulo virar o jogo e diminuir a fila de Gabriela para a de Lucas? A redução no tempo de espera é resultado do aumento de doações de córnea e de transplantes. Foram 3,4 mil cirurgias em 2004 e 5,3 mil no ano passado.

O que impulsionou esses números foi um acordo da Secretaria Estadual de Saúde, há dois anos, com o Banco de Olhos de Sorocaba, responsável por 75% das captações de córnea no Estado e centro de referência internacional no assunto.

O Banco montou um laboratório no Hospital Tatuapé e colocou equipes em outros 13 hospitais para orientar os familiares de pacientes que faleceram sobre a doação de córneas. Com isso, o Banco de Olhos de Sorocaba, na Capital, passou a captar uma média de 700 córneas por mês.

Antes do acordo, os outros quatro Bancos de Olhos da Capital (no Hospital São Paulo, na Santa Casa, no Hospital das Clínicas e no Servidor Municipal)captavam apenas 60 córneas por mês, em média.

‘O serviço dos profissionais de Sorocaba foi decisivo para ampliar o acesso ao transplante de córnea em São Paulo’, afirmou o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, Roberto Wchilindwein.

O secretário adjunto da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Renilson Rehem de Souza, ressalta ainda a importância da população para os bons resultados de São Paulo. ‘A conscientização dos paulistas em relação à doação de córneas foi um fator determinante’, disse Souza.